quarta-feira, janeiro 19, 2011

Os amantes sem dinheiro

Ainda Eugénio...


("Os Amantes", Magritte)


Tinham o rosto aberto a quem passava.
Tinham lendas e mitos
e frio no coração.
Tinham jardins onde a lua passeava
de mãos dadas com a água
e um anjo de pedra por irmão.


Tinham como toda a gente
o milagre de cada dia
escorrendo pelos telhados;
e olhos de oiro
onde ardiam
os sonhos mais tresmalhados.


Tinham fome e sede como os bichos,
e silêncio
à roda dos seus passos.
Mas a cada gesto que faziam
um pássaro nascia dos seus dedos
e deslumbrado penetrava nos espaços.


Eugénio de Andrade

5 comentários:

  1. Os amantes do dinheiro é que corrompem todo o sentimento...

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  2. Eugénio sempre, cara deep. Eugénio arrepia, comove, incomoda, interpela, desafia... mas nunca se lhe fica indiferente.

    (Gosto sempre do que por aqui encontro. Obrigada :))

    Um abraço.

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  3. o meu poema preferido... obrigado por o ver aqui...

    bjokas

    maria3

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  4. Sem dúvida, Koky. :)

    R. e maria3, eu é que agradeço - as palavras, a companhia. :)

    Boa semana para todos.

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  5. Cê tem um belo belogue, sabia?

    Vou passar mais vezes!

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