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domingo, dezembro 02, 2018

Como um copo se mantém intacto momentos antes de se estilhaçar

«Dizer de alguém que é jovem não me parece uma expressão correcta. Alguém está jovem, isso sim, da mesma forma que um copo se mantém intacto momentos antes de se estilhaçar no chão.»

José Eduardo Agualusa, O Vendedor de Passados

Releituras...

quarta-feira, dezembro 13, 2017

Como se fossem líquidos


Robert Doisneau, "La première maitresse"

«Os dias deslizam como se fossem líquidos. Não tenho mais cadernos onde escrever. Também não tenho mais canetas. Escrevo nas paredes, com pedaços de carvão, versos sucintos. Poupo na comida, na água, no fogo e nos adjetivos.»

in Teoria Geral do Esquecimento

Do José Eduardo Agualusa, que hoje está de parabéns.


segunda-feira, fevereiro 06, 2017

Leituras

«Seja como for, as línguas desenvolvem-se, evoluem, alimentando-se umas das outras. A língua portuguesa, em particular, recolheu palavras do mundo inteiro. Garoto, por exemplo, vem do francês gars; branco do germânico blank, que também significa brilhante ou limpo. Carimbo, do quimbundo ka´rima; bule do malaio buli; leque, do chinês lieu khieu; jangada veio de changadam, do malaiala de Malabar, na Índia, etc.»

José Eduardo Agualusa, Milagrário Pessoal

quarta-feira, agosto 05, 2015

Dos pequenos incidentes que têm o privilégio de maravilha


Há dias em que vivenciamos, para usar as palavras de Pessoa, "incidentes que têm o privilégio de maravilha". O Sábado passado foi um desses dias. Comecei por fazer uma viagem de duas horas e meia na companhia serena e sempre agradável de uma das minhas melhores amigas. No fim da tarde, tive o prazer de conhecer pessoalmente a Isabel, uma das bloggers que visito e que marca presença regular neste espaço, com quem tomei um café e tive uma conversa agradável e despretensiosa, que continuou à noite, no Cine-Teatro de Castelo Branco. Foi neste espaço, depois de um jantar rápido com um grupo de pessoas bem dispostas, que pude ver, pela primeira vez, dois escritores de eleição: Rosa Montero e José Eduardo Agualusa. Não menos emocionante foi o encontro totalmente inesperado com uma das "minhas" poetisas, a Maria do Rosário Pedreira, que respondeu de forma simples e simpática à minha abordagem.

terça-feira, novembro 11, 2014

Coisas de mulher*

«Um comum fio invisível prende as mulheres aos astros. Harmonizadas com as estrelas, ainda que não o saibam, todas as mulheres têm vocação para o infinito. Nós, os homens, ao contrário, estamos soltos na imensidão como gravetos num rio. Talvez por isso, os homens sejam naturalmente nómadas, naturalmente solitários e egoístas, e as mulheres gregárias, altruístas, sedentárias. A sedentarização das civilizações seria, nesta perspectiva, um triunfo feminino.»


José Eduardo Agualusa, A Substância do Amor e Outras Crónicas

*Título da crónica à qual pertencem as palavras transcritas

terça-feira, setembro 21, 2010

Sábios como camelos

Há muitos anos viveu na Pérsia um grão-vizir - nome dado naquela época aos chefes dos governos -, que gostava muito de ler. Sempre que tinha de viajar ele levava consigo quatrocentos camelos, carregados de livros, e treinados para andar em ordem alfabética. O primeiro camelo chamava-se Aba, o segundo Baal, e assim por diante, até ao último, que atendia pelo nome de Zuzá. Era uma verdadeira biblioteca sobre patas. Quando lhe apetecia ler um livro o grão-vizir mandava parar a caravana e ia de camelo em camelo, não descansando antes de encontrar o título certo.

Um dia a caravana perdeu-se no deserto. Os quatrocentos camelos caminhavam em fila, uns atrás dos outros, como um carreirinho de formigas. À frente da cáfila, que é como se chama uma fila de camelos, seguiam o grão-vizir e os seus ministros. Subitamente o céu escureceu, e um vento áspero começou a soprar de leste, cada vez mais forte. As dunas moviam-se como se estivessem vivas. O vento, carregado de areia, magoava a pele. O grão-vizir mandou que os camelos se juntassem todos, formando um círculo. Era, porém, demasiado tarde. O uivo do vento abafava as ordens. A areia entrava pela roupa, enfiava-se pelos cabelos, e as pessoas tinham de tapar os olhos para não ficarem cegas. Aquilo durou a tarde inteira. Veio a noite e quando o Sol nasceu o grão-vizir olhou em redor e não foi capaz de descobrir um único dos quatrocentos camelos. Pensou, com horror, que talvez eles tivessem ficado enterrados na areia. Não conseguia imaginar como seria a vida, dali para a frente, sem um só livro para ler. Regressou muito triste ao seu palácio. Quem lhe contaria histórias?

José Eduardo Agualusa, Estranhões e Bizarrocos

Continua aqui.