quinta-feira, julho 11, 2024

Talvez não fosse

 Aconteceu -me um poema.
Não era longo, nem erudito.
Era apenas a leve pena
de um pássaro no meu ombro,
a luz coada que me chegou
da infância,
o cheiro a feno...
Aconteceu -me um poema.
Ou talvez não fosse um poema.
Apenas um eco, uma brisa,
um grão de areia a morder-me
a memória...
Talvez fosse somente
esse aroma verde de mentrastos,
tinta de amoras nos dedos.
Talvez não fosse um poema...
Para se escrever um poema,
dizem os entendidos,
é preciso ser-se poeta,
é preciso saber escandir os versos,
acertar a métrica, o ritmo e,
com inteligência, a rima.
Para se ser poeta, é preciso que alguém
nos conceda o nome e o estatuto.
É preciso saber usar, com mestria,
figuras de retórica e insinuar sentidos ocultos.
É provável que não me tenha acontecido,
afinal, um poema,
mas vi nascer na página algo que lembra
uma flor a brotar no asfalto.

sexta-feira, maio 03, 2024

Continuo a sentir-me...

 ... quotidiana e tributável, aliás, cada vez mais quotidiana e prosaica, por isso não tenho tido vontade de escrever.

Partilho um devaneio de dezembro de 2018.

Sinto-me quotidiana e tributável,
(Bendito Álvaro, que mandou para o Diabo
as convenções!)
entregue à prosa do fogão, das panelas,
dos seguros, dos impostos e dos papéis.
Só a solidão parece aventurar-se
em voos poéticos mais ousados
– acabei de vê-la a trepar paredes.
 

sexta-feira, setembro 22, 2023

Parabéns, parabéns!

 Parabéns, ana!

Parabéns, CC!


Lagoa do Canário, São Miguel

Votos de muitos dias felizes para ambas.
Abraços.




sexta-feira, junho 09, 2023

A idade do cacifo


 "A idade do cacifo", que estreou no dia 25 de maio, no Teatro de Vila Real, é a mais recente produção da companhia Peripécia.
Os primeiros protagonistas da peça são três cacifos, que se impõem, em cena, cinzentos, metálicos e mudos. Só depois o palco acolhe os corpos e vozes humanos: três atores e um músico, que não deixa, a seu tempo, de ser ator. Todos versáteis na forma como se movem em palco e como encarnam diferentes personagens.  
A peça é um mergulho no mundo dos adolescentes, que vivem murados pelas regras impostas pelos adultos - pais e professores -, pelos estereótipos, pela escola ou pelos seus próprios conflitos interiores, por medos e anseios. Durante 70 minutos, seguimos, ora em apneia, ora num respirar de riso.
Em cena, desfilam medos, anseios, dilemas e conflitos, que são interiores ou com os outros. A música, não raramente agressiva, e o canto ditam a tensão emocional, o conflito interior ou exprimem a rebeldia, a necessidade de provocar, de se exprimir e de se afirmar.
Em "A idade do cacifo" há, numa aliança entre o cómico e o sério (muito sério!), essa vontade de deixar pouco por dizer, de, ao mesmo tempo, apontar o dedo e de cauterizar feridas. Há os pais que não querem ver e os que, obstinados, impõem regras, há os agressores e as vítimas, há os que sobrevivem e os que sucumbem. Há, inevitavelmente, os que saem do armário, perdão, do cacifo e aqueles que, por medo, inércia ou preconceito - próprio ou alheio -, se deixam ficar.
"A idade do cacifo" resulta nesse espelho em que nos vemos refletidos, jovens e adultos. Há esse efeito catártico, que se faz pela gargalhada e pelo confronto.

terça-feira, maio 09, 2023

sábado, março 25, 2023

Isto não é uma pintura...

 

... é só uma má foto!

quinta-feira, março 23, 2023

"I've caught poetry"


Monty Python's Flying Circus

(Imagens surripiadas da página da Bertrand Editora)

 

terça-feira, março 21, 2023

Canção


Feliz Dia da Poesia ... e da Árvore!

sábado, março 18, 2023

quinta-feira, outubro 20, 2022

17 anos e 1 dia


Parece que foi ontem, mas já passaram 17 anos. Poderia ter sido mãe e, neste momento, poderia ter um adolescente a dar-me preocupações e/ou alegria. Não fui mãe. Porém essa circunstância não me privou de preocupações nem de muitas alegrias.

Por vezes, tenho a impressão de que se passou quase nada nestes anos. Outras, sinto que vivi várias vidas.

Não criei um filho, mas fui criando um blogue (que não é, obviamente, a mesma coisa!)  e, com ele, alguns laços e empatias. 

Obrigada a todos quantos, ao longo destes anos, me têm feito companhia. Brindemos!