Aconteceu -me um poema.
Não era longo, nem erudito.
Era apenas a leve pena
a luz coada que me chegou
da infância,
o cheiro a feno...
Aconteceu -me um poema.
Ou talvez não fosse um poema.
Apenas um eco, uma brisa,
um grão de areia a morder-me
a memória...
Talvez fosse somente
esse aroma verde de mentrastos,
tinta de amoras nos dedos.
Talvez não fosse um poema...
Para se escrever um poema,
dizem os entendidos,
é preciso ser-se poeta,
é preciso saber escandir os versos,
acertar a métrica, o ritmo e,
com inteligência, a rima.
Para se ser poeta, é preciso que alguém
nos conceda o nome e o estatuto.
É preciso saber usar, com mestria,
figuras de retórica e insinuar sentidos ocultos.
É provável que não me tenha acontecido,
afinal, um poema,
mas vi nascer na página algo que lembra
uma flor a brotar no asfalto.
deep, julho de 2024
Na verdade, não sendo poetisa, aconteceu-me apenas um "devaneio"...
Imagem captada nas Furnas, São Miguel (2022)
Estava a ler o poema e a pensar "Tão bonito,não conheço, de quem será?".Gostei imenso! E da foto também,que parece que tem algo escrito.
ResponderEliminarBeijinhos. Bom domingo:))