sábado, março 22, 2025

Aconteceu-me um poema


 Aconteceu -me um poema.

Não era longo, nem erudito.
Era apenas a leve pena
de um pássaro no meu ombro,
a luz coada que me chegou
da infância,
o cheiro a feno...
Aconteceu -me um poema.
Ou talvez não fosse um poema.
Apenas um eco, uma brisa,
um grão de areia a morder-me
a memória...
Talvez fosse somente
esse aroma verde de mentrastos,
tinta de amoras nos dedos.
Talvez não fosse um poema...
Para se escrever um poema,
dizem os entendidos,
é preciso ser-se poeta,
é preciso saber escandir os versos,
acertar a métrica, o ritmo e,
com inteligência, a rima.
Para se ser poeta, é preciso que alguém
nos conceda o nome e o estatuto.
É preciso saber usar, com mestria,
figuras de retórica e insinuar sentidos ocultos.
É provável que não me tenha acontecido,
afinal, um poema,
mas vi nascer na página algo que lembra
uma flor a brotar no asfalto.

deep, julho de 2024

Na verdade, não sendo poetisa, aconteceu-me apenas um "devaneio"...
Imagem captada nas Furnas, São Miguel (2022)

4 comentários:

  1. Estava a ler o poema e a pensar "Tão bonito,não conheço, de quem será?".Gostei imenso! E da foto também,que parece que tem algo escrito.
    Beijinhos. Bom domingo:))

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    1. Muito obrigada, Isabel! Um fim de semana muito bom para ti. :) Beijinhos

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  2. E aconteceu mesmo um poema tão cheio de delicadeza e sensibilidade que me deixou a pensar na força das palavras mais sentidas. Que beleza.
    Uma boa semana.
    Um beijo.

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    1. Muito obrigada, Graça. Um fim de semana muito bom. :) Um beijo

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