sábado, setembro 28, 2024

Rimas prontas para pessoas tontas

 

Era uma vez um gato espanhol
que passava os dias a tostar ao sol.
Quando tinha fome, comia um rissol
e, se bem calhava, bebia um Sumol.

                      *

Era um pato peripato
que dormia num sapato
e um gato pigmeu
que nada tinha de seu
e um cão mandrião
que não aprendia a lição.

Veio o vento barulhento,
levou tudo pelo ar.
Foi-se o pato, foi-se o gato
e até o meu sapato.
Foi-se o cão mandrião.
Só ficou esta canção.

                  *

Havia um pintor
que pintava com amor.
Usava trincha e pincel
e chamava-se Manuel.

Estas e outras rimas surgiram de improviso, no contacto diário com a minha mãe. As rimas, quanto mais disparatadas ou algo maliciosas, assim como algumas canções infantis ou populares (a "Laurindinha" é uma das preferidas) fazem-na rir ou despertam nela memórias antigas. Inventar rimas ou pequenas narrativas para justificar o lugar onde está ou a ausência de alguém é um desafio constante. Sobra-me pouco tempo para outras "criações". 

terça-feira, setembro 24, 2024

A minha memória anda a trair-me,

por isso, deixei passar o aniversário da ana e da CC... 

Para ambas, Parabéns atrasados e votos de muitos momentos felizes! 

(As ofertas: um poema da Graça Pires, presença assídua nesta "casa", e uma imagem outonal da minha autoria.)

Indago a forma definitiva do outono.
Um diálogo pode mudar a paisagem.
Fazer nascer um poema.
Criar obsessões.
Destruir emboscadas.
Cada instante é a metamorfose
de uma asfixia interior.
Confundo os caracteres e um imaginário
se revela numa iconografia fantástica.
Nas entrelinhas, um espectáculo de ironias
reitera entregas e recusas
como um dever por cumprir.

Graça Pires, Outono: lugar frágil, 1994
 

terça-feira, setembro 17, 2024

Paredes que "falam"



Coimbra, agosto de 2024

 

domingo, agosto 18, 2024

Parabéns!

 Votos de muitos dias felizes, com saúde e boa disposição, Isabel! :)



(Conheci a Isabel na blogosfera, mas que tive o prazer de a conhecer pessoalmente, há alguns anos.)

Para ti, uma imagem de Trás-os-Montes, que captei há dois dias. 

terça-feira, julho 30, 2024

De regresso ao planalto

No domingo, regressei a Mogadouro, a terra que me acolheu desde os 4 anos até à minha saída para a faculdade e onde regressei sempre nas férias, enquanto os meus pais ali moraram.
Desta vez, dei um salto ao Festival Terra Transmontana, que já conta com algumas edições.
Ficam alguns registos fotográficos.










 

quinta-feira, julho 11, 2024

Talvez não fosse

 Aconteceu -me um poema.
Não era longo, nem erudito.
Era apenas a leve pena
de um pássaro no meu ombro,
a luz coada que me chegou
da infância,
o cheiro a feno...
Aconteceu -me um poema.
Ou talvez não fosse um poema.
Apenas um eco, uma brisa,
um grão de areia a morder-me
a memória...
Talvez fosse somente
esse aroma verde de mentrastos,
tinta de amoras nos dedos.
Talvez não fosse um poema...
Para se escrever um poema,
dizem os entendidos,
é preciso ser-se poeta,
é preciso saber escandir os versos,
acertar a métrica, o ritmo e,
com inteligência, a rima.
Para se ser poeta, é preciso que alguém
nos conceda o nome e o estatuto.
É preciso saber usar, com mestria,
figuras de retórica e insinuar sentidos ocultos.
É provável que não me tenha acontecido,
afinal, um poema,
mas vi nascer na página algo que lembra
uma flor a brotar no asfalto.

sexta-feira, maio 03, 2024

Continuo a sentir-me...

 ... quotidiana e tributável, aliás, cada vez mais quotidiana e prosaica, por isso não tenho tido vontade de escrever.

Partilho um devaneio de dezembro de 2018.

Sinto-me quotidiana e tributável,
(Bendito Álvaro, que mandou para o Diabo
as convenções!)
entregue à prosa do fogão, das panelas,
dos seguros, dos impostos e dos papéis.
Só a solidão parece aventurar-se
em voos poéticos mais ousados
– acabei de vê-la a trepar paredes.
 

sexta-feira, setembro 22, 2023

Parabéns, parabéns!

 Parabéns, ana!

Parabéns, CC!


Lagoa do Canário, São Miguel

Votos de muitos dias felizes para ambas.
Abraços.




sexta-feira, junho 09, 2023

A idade do cacifo


 "A idade do cacifo", que estreou no dia 25 de maio, no Teatro de Vila Real, é a mais recente produção da companhia Peripécia.
Os primeiros protagonistas da peça são três cacifos, que se impõem, em cena, cinzentos, metálicos e mudos. Só depois o palco acolhe os corpos e vozes humanos: três atores e um músico, que não deixa, a seu tempo, de ser ator. Todos versáteis na forma como se movem em palco e como encarnam diferentes personagens.  
A peça é um mergulho no mundo dos adolescentes, que vivem murados pelas regras impostas pelos adultos - pais e professores -, pelos estereótipos, pela escola ou pelos seus próprios conflitos interiores, por medos e anseios. Durante 70 minutos, seguimos, ora em apneia, ora num respirar de riso.
Em cena, desfilam medos, anseios, dilemas e conflitos, que são interiores ou com os outros. A música, não raramente agressiva, e o canto ditam a tensão emocional, o conflito interior ou exprimem a rebeldia, a necessidade de provocar, de se exprimir e de se afirmar.
Em "A idade do cacifo" há, numa aliança entre o cómico e o sério (muito sério!), essa vontade de deixar pouco por dizer, de, ao mesmo tempo, apontar o dedo e de cauterizar feridas. Há os pais que não querem ver e os que, obstinados, impõem regras, há os agressores e as vítimas, há os que sobrevivem e os que sucumbem. Há, inevitavelmente, os que saem do armário, perdão, do cacifo e aqueles que, por medo, inércia ou preconceito - próprio ou alheio -, se deixam ficar.
"A idade do cacifo" resulta nesse espelho em que nos vemos refletidos, jovens e adultos. Há esse efeito catártico, que se faz pela gargalhada e pelo confronto.

terça-feira, maio 09, 2023