domingo, outubro 14, 2018

Tragam-me




(Duy Huynh)

Tragam-me um homem que me levante 
com os olhos 
que em mim deposite o fim da tragédia 
com a graça de um balão acabado de encher 
tragam-me um homem que venha em baldes, 
solto e líquido para se misturar em mim 
com a fé nupcial de rapaz prometido a despir-se 
leve, leve, um principiante de pássaro 
tragam-me um homem que me ame em círculos 
que me ame em medos, que me ame em risos 
que me ame em autocarros de roda no precipício 
e me devolva as olheiras em gratidão de 
estarmos vivos 
um homem homem, um homem criança 
um homem mulher 
um homem florido de noites nos cabelos 
um homem aquático em lume e inteiro 
um homem casa, um homem inverno 
um homem com boca de crepúsculo inclinado 
de coração prefácio à espera de ser escrito 
tragam-me um homem que me queira em mim 
que eu erga em hemisférios e espalhe e cante 
um homem mundo onde me possa perder 
e que dedo a dedo me tire as farpas dos olhos 
atirando-me à ilusão de sermos duas 
novíssimas nuvens em pé. 

Cláudia R. SampaioVer no Escuro


Poema surripiado do mural do Facebook de uma amiga.

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