domingo, maio 24, 2015

Leituras

 «Quando estudante universitária, detestava Schopenhauer; mais tarde, compreendi que devia reter da sua teoria que qualquer relação sentimental é uma possibilidade de agressão, e, quanto mais deixo um homem aproximar-se, mais vias se abrem pelas quais o perigo me pode atingir. Não me foi fácil admitir que eu devia, para mais, contar com Emerence, a sua existência tornara-se uma das componentes da minha vida e, no início, fiquei apavorada com a ideia de a perder, se lhe sobrevivesse, o que aumentaria o meu exército de sombras, cuja presença imanente e intangível me perturba e me mergulha no desespero.
Esta tomada de consciência em nada se modificou pelo comportamento de Emerence, variando segundo um número incalculável de chaves: por vezes, ela tratava-me de um modo tão rude que um estranho, se assistisse, se espantaria porque tolerava isso. Tal não contava: há muito que eu já não prestava atenção aos movimentos tectónicos que agitavam a superfície de Emerence; ela deve ter descoberto o mesmo, e, por mais que não quisesse arriscar o coração, (...) também ela não podia escapar à sua afeição por mim.»


Magda Szabó, A Porta

5 comentários:

  1. Por vezes assusta a possibilidade de ter porque se pode perder. Parece interessante o livro, Luísa. Beijinhos

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  2. Muitas vezes, mais do que gostaríamos, Paula.
    O livro é bonito, ainda que seja emocionalmente pesado.

    Beijinhos

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  3. Uma partilha muito sensível.

    Beijo

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  4. Parece uma leitura interessante :)

    Desejo-te um bom fim-de-semana:)

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  5. Obrigada, Pérola.
    Bom domingo. :)

    Sim, Isabel, é interessante, mas nem sempre fácil, do ponto de vista das emoções.

    Obrigada pelos votos. Bom domingo. :)

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