Já a minha relação com a chuva é mais contraditória. Aprecio-a pelo que tem de benéfico, pela cor que empresta às paisagens, ou quando me embala e convoca o meu sono. Porém, quando se demora, acaba por me aborrecer e deprimir.
É, talvez por tudo isto, um pouco estranho que algumas lembranças felizes tenham como cenário dias de chuva e lugares onde ela é frequente. Ocorrem-me as paisagens e os caminhos de S. Miguel, onde o verde é mais vivo e o cheiro de terra molhada e de algumas plantas se tornam inesquecíveis depois da chuva; um fim de tarde em Serralves, em que, debaixo de uma chuva impiedosa, fizemos o trilho de areia vermelha que nos conduziu a uma palestra de Eduardo Lourenço; a imagem de grossas gotas de chuva em investida contra a janela, num despertar em Amesterdão; um início de noite, num minúsculo jardim de uma casa vitoriana, em Londres; uma chuva torrencial em Santiago.
Tudo me chega de tempos e espaços longínquos, como cenas de um sonho, e tudo, ao mesmo tempo, tão meu, ainda que em fragmentos que ameaçam fugir-me.
Texto muito bonito e acompanhado de lindas fotos. Belo post!Obrigada pelas palavras a respeito de S. Miguel.
ResponderEliminarTambém vejo beleza na chuva, embora prefira os dias de sol. Também gosto do calor, mas sem ser excessivo. Também já tive momentos felizes ao som da chuva. :)
Obrigada. :) Não tens de agradecer. Tive a sorte de estar em S. Miguel em três verões diferentes (2005, 2008 e 2012), o fascínio só aumentou. As palavras são poucas para traduzir o que sinto perante tamanha beleza. :)
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