Percebo agora
Percebo agora
Que já não sei a cor dos teus olhos.
Perdi o teu sentido há tanto tempo...
Eu era uma menina,
E dei-te a mão
Como se a tua morada,
De repente,
Fosse a minha direcção.
Já não reconheço os teus dedos.
Caminhamos dias e dias
Esquecendo que algures
Eu devia pertencer a alguém.
Não alcanço já a tua sombra.
Deixaste-me ficar por fim,
À beira de um rio
Onde lavaste o corpo e empenhaste a alma
Para dizer adeus sem culpa.
E hoje já não sei
Se foste tu ou eu
Quem omitiu o retorno.
Virgínia do Carmo, Tempos Cruzados
Outros poetas
Há monstros nas sombras daquilo
que toco, sem notar existir
vagueiam prateleiras forradas
a livros, uniões de facto,
íntimas de mim. Há silêncios
na casa, que implodem e suplicam
sobrevivências num rasto vermelho
fogo - emergido à contra-luz duma
taciturna madrugada. Devo-lhes
esse silêncio, o sangue frio em reunião
com as palavras que respiram e se aclaram
noutros monstros
[de vozes inquietas
que me sussurram e despertam
para outras vidas, outras paragens.
Miguel Pires Cabral, Café Solo
Ontem, tive a sorte de encontrar e de ouvir, numa tertúlia intitulada "Os Prazeres e as Dores da Escrita", os dois poetas. Aproveitei para lhes "roubar" autógrafos.
Conheço e aprecio a poesia da Virgínia do Carmo.
ResponderEliminarDo Miguel Pires Cabral, acho que apenas li este poema, que gostei imenso.
Querida amiga, bom Domingo e boa semana.
Beijos.
Até hoje para mim eras apenas a Deep, e isso bastava-me; mas fiquei feliz por saber que por detrás da Deep existe a Luísa!
ResponderEliminarUm grato abraço!
Com um novo rosto ou mudado o letras surpreende-me agradavelmente . Estás de parabéns pela poesia e pela mudança neste Verão .
ResponderEliminarFoi vir aqui eu que tenho andado afastado.
Um abraço
_______ JRMARTO
Escrever ... ler ...
ResponderEliminarusufruir.
imaginar rostos.
associar.
... e ver, depois, as caras reais.
... e pedir autógrafos.
Tudo poesias. ****
Bem pensado e melhor partilhado :)
ResponderEliminarGostei muito do poema da Virgina do Carmo.Elsa
ResponderEliminarAqui há tempos atrás fui fazer uma visita ao escritor J. Rentes de Carvalho. Fui municiado com o "Ernestina" e pedi-lhe um autógrafo. Ele virou-se para mim e perguntou: "e para que quer o autógrafo?".
ResponderEliminarDesarmou-me por completo. E deixou-me a pensar: realmente, para que servem os autógrafos?
Boas leituras...
Os autógrafos são uma forma do leitor ir ter com o escreve. Os autógrafos podem ser um pretexto mas podem ser um motivo, também. Quantos romances começaram com um autógrafo! Quantos namoros podem começar com um autógrafo! E quantas vezes - quantas vezes! - num autógrafo está uma entrega total de quem o escreve. Não há só os autógrafos de circunstância ou os que se escrevem só por escrever...
ResponderEliminarTens um "em" a mais no poema de Miguel Pires Cabral...
ResponderEliminarOnde se lê:
"com as palavras "em" que respiram e se aclaram..."
deve ler-se:
"com as palavras que respiram
e se aclaram..."
Excelentes escolhas, gostei do blogue...
"Anónimo" (??), obrigada pelo reparo. Já corrigi. Obrigada também pelo elogio e pela visita.
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