Os senhores todos conhecem a pergunta famosa universalmente repetida: "Que livro escolheria para levar consigo, se tivesse de partir para uma ilha deserta...?"
Vêm os que acreditam em exemplos célebres e dizem naturalmente: "Uma história de Napoleão." Mas uma ilha deserta nem sempre é um exílio... Pode ser um passatempo...
Os que nunca tiveram tempo para fazer leituras grandes, pensam em obras de muitos volumes. É certo que numa ilha deserta é preciso encher o tempo... E lembram-se das Vidas de Plutarco, dos Ensaios de Montaigne, ou, se são mais cientistas que filósofos, da obra completa de Pasteur. Se são uma boa mescla de vida e sonho, pensam em toda a produção de Goethe, de Dostoievski, de Ibsen. Ou na Bíblia. Ou nas Mil e uma noites.
Pois eu creio que todos esses livros, embora esplêndidos, acabariam fatigando; e, se Deus me concedesse a mercê de morar numa ilha deserta (deserta, mas com relativo conforto, está claro — poltronas, chá, luz elétrica, ar condicionado) o que levava comigo era um Dicionário. (...)
Não sei se muita gente haverá reparado nisso — mas o Dicionário é um dos livros mais poéticos, se não mesmo o mais poético dos livros. O Dicionário tem dentro de si o Universo completo.(...)
O Dicionário é o mais democrático dos livros. Muito recomendável, portanto, na atualidade. Ali, o que governa é a disciplina das letras. Barão vem antes de conde, conde antes de duque, duque antes de rei. Sem falar que antes do rei também está o presidente.(...)
Poderia louvar melhor os amigos, e melhor perdoar os inimigos, porque o mecanismo da minha linguagem estaria mais ajustado nas suas molas complicadíssimas. E sobretudo, sabendo que germes pode conter uma palavra, cultivaria o silêncio, privilégio dos deuses, e ventura suprema dos homens.
Cecília Meireles, 1948
Nesta que é a "Semana do Livro e da Leitura", pergunto:
Que livro levarias para uma ilha deserta?
Cem anos de solidão do G. Garcia Marquez.
ResponderEliminar:)
Fernão Capelo Gaivota, pela beleza a esperança e a coragem.
ResponderEliminarAbraço
CarpeDiem
Para uma ilha deserta não levaria livros, apenas as folhas brancas de um ou mais cadernos, onde havia de escrever o meu livro da solidão.
ResponderEliminarDei algumas voltas no fundo da memória e acabei por colocar tudo pela ordem que tirei. Afinal o livro estava em cima, mais leve, levava a fábula de veneza e esperava pelo Corto Maltese :)
ResponderEliminarLevaria "o gato que ensinou a gaivota a voar", simplesmente
ResponderEliminarporque é uma belíssima história.
Bom fim de semana.
wandolas
Le Petit Prince, de Saint-Exupéry. E um moleskine, mas este não conta...
ResponderEliminarTmbém eu levaria um dicionário.
ResponderEliminarUm dicionário ajudar-me-ia a compor o "Livro de uma Ilha Deserta"
Bom fim de semana
Carmo
"Do amor e outros demónios" - Gabriel García Márquez. :)
ResponderEliminarQue crueldade. Apenas um?
ResponderEliminarPor mil e uma razões, provavelmente o "Rosinha, minha Canoa", do José Mauro Vasconcelos - a razão acima do milhar tem a ver com, quem sabe, a hipótese de aprender a falar com as árvores (na ilha haveria, já que não gente, ao menos árvores, não????).
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Só um era muito pouco, mas escolhia a Bíblia...e tinha que arranjar forma de escrever, nem que fosse na areia!
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