(Ada Breedveld, La Tendresse)
Mesmo que Dom Pedro não tenha arrancado e comido o coração do carrasco de D. Inês, Júlio Dantas continua a ter razão: é realmente diferente o amor em Portugal.
Basta pensar no incómodo fonético de dizer «Eu amo-o» ou «Eu amo-a». Em Portugal, aqueles que amam preferem dizer que estão apaixonados, o que não é a mesma coisa, ou então embaraçam seriamente os eleitos com as versões estrangeiras: «I love you» ou «Je t'aime». As perguntas «Amas-me?» ou «Será que me amas?» estão vedadas pelo bom gosto, senão pelo bom senso. Por isso diz-se antes «Gostas de mim?», o que também não é a mesma coisa. (...)
A confusão do amar com o gostar, do amor com a paixão, e do afecto, tornam muito difícil a condição do amante em Portugal. Impõe-se rapidamente o esclarecimento de todos estes imbróglios. Que bom que seria poder dizer «Estou apaixonado por ela, mas não a amo», ou «Já não gosto de ti, embora continue apaixonado» ou «Ele é tão amável que não se consegue deixar de amá-lo».
Miguel Esteves Cardoso, A Causa das Coisas
Gostei muito deste livro e continuo a gostar do Dono das palavras. Um ser meticuloso, um caricaturista . Tens que me emprestar o livro!
ResponderEliminarBjs