Há minutos, ao fazer um rápido périplo por alguns blogs, deparei, n' A Origem das Espécies, com uma nota sobre José Agostinho Baptista. A este poeta, natural da Madeira, foi hoje atribuído o Grande Prémio Poesia APE/CTT. Curiosa, não resisti a visitar a página do autor. Dos poucos poemas nela insertos, escolhi o que transcrevo para o partilhar convosco.
Comovem-me ainda os dias que se levantam
no deserto das nossas vidas.
Dos belos palácios da saudade
não resta a impressão dos dedos nas colunas
fendidas, e nada cresce nos pátios.
Muito além, depois das casas, o último
marinheiro continua sentado.
Os seus cabelos são brancos, pouco a pouco. [...]
*Título da obra que deu o prémio ao autor.
muito bonito, escolhido a dedo com muito bom gosto, como sempre.
ResponderEliminarbjokas e bom inicio de semana.
Belo. É a palavra que melhor expressa o poema.
ResponderEliminarNão sei onde estás agora, o que fazes,
ResponderEliminarse bordas ainda a colcha antiga, com todas
as cores das telas rasgadas,
atiradas ao chão,
não sei,
solitária estrela do anoitecer,
onde deixaste a luz que batia ternamente nos
espelhos negros das
minhas madrugadas sem água,
a luz que um deus cruel roubou aos pássaros
dos teus olhos escuros.
Não sei se chove.
Agora,
talvez caminhes sem rumo através dos
quartos,
numa casa onde já nada se ouve,
nem os acordes da alma,
nem a respiração da orquídea,
numa casa onde as portas se fecharam para
sempre,
e a cortina se não move.
É uma casa sem vinho,sem pão, sem as
altas fogueiras de um sol eterno,
talvez o mesmo sol que hoje cai sobre este
cais que nunca viste,
este cais onde regressarei depois de um longo
e mortal exílio,
para dizer-te como isto dói,
estes barcos que voltam a partir de uma ilha
e do meu coração,
estes barcos que são a minha própria voz,
rouca e devorada pelo sal,
a dizer-te adeus.
José Agostinho Baptista