Ao longo da vida vamos deixando para trás pessoas que, de forma tangencial ou profunda, atravessaram o nosso caminho e deixaram em nós um pouco de si, para o bem e para o mal. Algumas dessas pessoas ausentaram-se dos nossos dias por opção – porque as desiludimos ou por não terem sabido aceitar os nosso defeitos quando estes começaram a mesclar as qualidades que os cativaram – por vezes, temos dificuldade em aceitar nos outros os defeitos que em nós, mesmo que inconscientemente, mais detestamos.
Algumas prometeram-nos o mundo. Não foram capazes de nos oferecer um canteiro, onde, entre inevitáveis ervas daninhas, pudessem crescer flores singelas. Partiram quase sem aviso, deixando-nos, entre mãos, a mágoa e a incredulidade. Durante muito tempo, não soubemos onde depositá-las, por isso as revestimos de raiva, que sonhámos apaziguar, desferindo palavras amargas e incisivas como flechas, à primeira oportunidade. As oportunidades falharam. Minutos, horas, dias, semanas, meses, anos passaram. Novas presenças iludiram a dor. As palavras perderam a força, ganharam tons suaves, indefinidos. Magoar já não faz sentido. A indiferença… sim, é melhor a indiferença…
Um dia despertamos quase com a certeza de que será aquele o dia do tão esperado e, ao mesmo tempo, temido encontro. Procuramos não dar importância aos “sinais”, enquanto vestimos uma roupa que disfarce os quilos acumulados com os anos, e apuramos os pormenores – um colar, um perfume suave…
Os “sinais” confirmam-se. Olhamo-nos, a alguma distância. Numa fracção de segundos, ficamos sem saber onde colocar as mãos, todo o corpo, que direcção dar aos pés. Aproximamo-nos – adeus palavras amargas, adeus indiferença! Cumprimentamo-nos com a “efusividade” de cordiais conhecidos. Não ousamos saber mais do que aquilo que já outros haviam tido o cuidado de nos dizer, empenhados em manter acesa uma chama extinta à partida.
Entorpecidos, regressamos a casa, incapazes de discernir os sentimentos que nos assaltam e que em nós se confundem.
Apesar de ser caranguejo... detesto o reencontro passados anos... a passado tem o nome com ele já passou...
ResponderEliminarbelo texto, deep...
ResponderEliminarmesmo deep!
beijo amigo!
«Algumas prometeram-nos o mundo. Não foram capazes de nos oferecer um canteiro...»
ResponderEliminarachei fantástico isto ke escreveste...
o passado se é passado é pk não teve ke ser presente, nem futuro.
Há ke guarda-lo com algum carinho e rumar...
Um dia alguém nos oferece uma flor e vem o Mundo inteiro agarrado :)
beijocas