sexta-feira, junho 10, 2022

O tempo acaba o ano, o mês e a hora

(Desconheço a autoria da imagem)

O tempo acaba o ano, o mês e a hora,
A força, a arte, a manha, a fortaleza;
O tempo acaba a fama e a riqueza,
O tempo o mesmo tempo de si chora.

O tempo busca e acaba o onde mora
Qualquer ingratidão, qualquer dureza;
Mas não pode acabar minha tristeza,
Enquanto não quiserdes vós, Senhora.

O tempo o claro dia torna escuro
E o mais ledo prazer em choro triste;
O tempo, a tempestade em grão bonança.

Mas de abrandar o tempo estou seguro
O peito de diamante, onde consiste
A pena e o prazer desta esperança.

Luís de Camões

4 comentários:

  1. Poema deslumbrante desse enorme poeta, Luís de Camões.
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    Feliz fim de semana.
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    Pensamentos e Devaneios Poéticos
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  2. Os sonetos de Camões são sempre reflexivos. Este sobre o Tempo é realmente muito belo. "O tempo o mesmo tempo de si chora"... Que mais acrescentar?
    Uma boa semana com muita saúde.
    Um beijo.

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  3. Creio que Camões se apercebeu que somos feitos dessa força e vilania temporal. No seu crer de poeta sobrepôs-lhe o amor como esperança de solo firme. Beirando a morte, o que pensaria o Poeta, abandonado de todos e sem os amores por que correu. Talvez o tenha salvo a abnegação de um escravo, A vida ensina até à morte.

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  4. Obrigada a todos pelos comentários e pela companhia. Votos de boa semana. :)

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