Transcrevo para esta página um texto que escrevi esta manhã para ser publicado noutro espaço.
O Dia
Internacional da Mulher que hoje, 8 de março, se celebra, foi instituído pela
ONU em 1977, para celebrar as conquistas e para homenagear as mulheres que
fizeram um percurso de luta, no sentido da igualdade. Celebrar este dia na
atualidade é também uma forma de lembrar que a meta ainda não está atingida, que
há muitas batalhas para travar.
Basta olharmos à nossa volta para
percebermos que a mulher continua a ser, na maior parte dos casais, a principal
responsável pelas tarefas domésticas e pela educação dos filhos. São as mulheres
que, depois de um dia de trabalho, tratam não só da lida da casa, como são
sobretudo elas que se assumem como encarregados de educação dos filhos, que vão
à escola ou que faltam ao trabalho quando eles ficam doentes. São as mulheres
que, quase sempre, abdicam das carreiras ou de certos sonhos, para os maridos
ou os filhos possam concretizar os seus. A este propósito, recordo uma entrevista
do escritor peruano Mario Vargas Llosa, em que ele dizia que não teria chegado
onde chegou na sua carreira se a esposa não tivesse garantido a resolução das
questões domésticas (prosaicas, mas necessárias!). De quantos sonhos abdicou
ela?
Apesar de todas as alterações à
constituição, que preconiza que as mulheres devem ter maior representatividade
na política e em cargos de chefia, a realidade mostra-nos que houve progresso,
mas não aquele que seria o ideal.
Socialmente, a mulher continua
a ser vista por muitos homens – e pelas próprias mulheres também! - como
um ser incapaz de levar a cabo certas tarefas e uma presa fácil. Toda a mulher
que ouse entrar sozinha numa oficina ou num bar noturno é olhada como um
"elemento estranho" e alguém a quem é fácil seduzir ou enganar. Até a
própria linguagem que se usa para condenar os comportamentos das mulheres é
mais discriminatória, diminuitiva e, entre os homens, não raras vezes obscena.
Diariamente, lemos ou vemos notícias
que nos provam que a mulher continua
a ser a principal vítima de violência doméstica e de outros tipos de crime.
Nos últimos dias,
quando nos ligamos aos meios de comunicação ou às redes sociais, deparamos com notícias
e testemunhos de mulheres que fogem da guerra e que, tendo deixado os maridos
na Ucrânia, procuram garantir a segurança dos filhos. São mulheres
desesperadas, mas são, sobretudo, mulheres corajosas, que partem sem saberem aquilo
que as espera no fim da linha, que chegam a países de acolhimento, como o
nosso, sem conhecerem a língua e sem terem alguém ou um emprego que as espere.
É principalmente para essas mulheres – mães, filhas, avós – que hoje dirijo a
minha homenagem.
Feliz Dia Internacional da Mulher!
Termino com dois excertos do poema “Calçada de Carriche”, de António Gedeão, que é uma homenagem às mulheres.
sobe a calçada
sobe e não pode
que vai cansada.
Sobe Luísa,
sobe que sobe
sobe a calçada.
Saiu de casa
de madrugada;
regressa a casa
é já noite fechada.
[...]
Chegou a casa
não disse nada.
Pegou na filha,
deu-lhe a mamada;
bebeu a sopa
numa golada;
lavou a loiça,
varreu a escada;
deu jeito à casa
desarranjada;
coseu a roupa
já remendada;
despiu-se à pressa,
desinteressada;
caiu na cama
de uma assentada;
chegou o homem,
viu-a deitada;
serviu-se dela,
não deu por nada.
[...]
Passando, elogiando a publicação, e desejando, um Feliz dia internacional da mulher. Não existe, e contra mim falo, a força que o coração e a alma de uma MULHER tem
ResponderEliminar.
Hoje escrevi: “ É lindo o coração da mulher “
.
Pensamentos e Devaneios Poéticos
Mário Vargas Llosa é mesmo um bom exemplo. Pelo que se afirma no texto e pelo que não.
ResponderEliminarUma homenagem muito sentida, à qual me associo. O poema de Gedeão que sei de cor, é mesmo o poema certo e representativo daquilo para que as mulheres têm de ter coragem. Obrigada.
ResponderEliminarUma boa semana com muita saúde.
Um beijo.
Excelente este texto.
ResponderEliminarUm excelente momento e um poema espectacular de Gedeão!
Tanta, tanta Luísa por este mundo.
Gosto muito de ouvir Carlos Mendes a cantar este poema.
Bonita a sua homenagem.
Brisas doces *