terça-feira, março 08, 2022

A propósito...

 Transcrevo para esta página um texto que escrevi esta manhã para ser publicado noutro espaço.

          O Dia Internacional da Mulher que hoje, 8 de março, se celebra, foi instituído pela ONU em 1977, para celebrar as conquistas e para homenagear as mulheres que fizeram um percurso de luta, no sentido da igualdade. Celebrar este dia na atualidade é também uma forma de lembrar que a meta ainda não está atingida, que há muitas batalhas para travar.

            Basta olharmos à nossa volta para percebermos que a mulher continua a ser, na maior parte dos casais, a principal responsável pelas tarefas domésticas e pela educação dos filhos. São as mulheres que, depois de um dia de trabalho, tratam não só da lida da casa, como são sobretudo elas que se assumem como encarregados de educação dos filhos, que vão à escola ou que faltam ao trabalho quando eles ficam doentes. São as mulheres que, quase sempre, abdicam das carreiras ou de certos sonhos, para os maridos ou os filhos possam concretizar os seus. A este propósito, recordo uma entrevista do escritor peruano Mario Vargas Llosa, em que ele dizia que não teria chegado onde chegou na sua carreira se a esposa não tivesse garantido a resolução das questões domésticas (prosaicas, mas necessárias!). De quantos sonhos abdicou ela?

            Apesar de todas as alterações à constituição, que preconiza que as mulheres devem ter maior representatividade na política e em cargos de chefia, a realidade mostra-nos que houve progresso, mas não aquele que seria o ideal.

            Socialmente, a mulher continua  a ser vista por muitos homens – e pelas próprias mulheres também! - como um ser incapaz de levar a cabo certas tarefas e uma presa fácil. Toda a mulher que ouse entrar sozinha numa oficina ou num bar noturno é olhada como um "elemento estranho" e alguém a quem é fácil seduzir ou enganar. Até a própria linguagem que se usa para condenar os comportamentos das mulheres é mais discriminatória, diminuitiva e, entre os homens, não raras vezes obscena.

            Diariamente, lemos ou vemos notícias que nos provam que a mulher continua a ser a principal vítima de violência doméstica e de outros tipos de crime.

            Nos últimos dias, quando nos ligamos aos meios de comunicação ou às redes sociais, deparamos com notícias e testemunhos de mulheres que fogem da guerra e que, tendo deixado os maridos na Ucrânia, procuram garantir a segurança dos filhos. São mulheres desesperadas, mas são, sobretudo, mulheres corajosas, que partem sem saberem aquilo que as espera no fim da linha, que chegam a países de acolhimento, como o nosso, sem conhecerem a língua e sem terem alguém ou um emprego que as espere. É principalmente para essas mulheres – mães, filhas, avós – que hoje dirijo a minha homenagem.

Feliz Dia Internacional da Mulher!

Termino com dois excertos do poema “Calçada de Carriche”, de António Gedeão, que é uma homenagem às mulheres.

 Luísa sobe,

sobe a calçada

sobe e não pode

que vai cansada.

Sobe Luísa,

sobe que sobe

sobe a calçada.

Saiu de casa

de madrugada;

regressa a casa

é já noite fechada.

 

[...]

 

Chegou a casa

não disse nada.

Pegou na filha,

deu-lhe a mamada;

bebeu a sopa

numa golada;

lavou a loiça,

varreu a escada;

deu jeito à casa

desarranjada;

coseu a roupa

já remendada;

despiu-se à pressa,

desinteressada;

caiu na cama

de uma assentada;

chegou o homem,

viu-a deitada;

serviu-se dela,

não deu por nada.

 

[...]


4 comentários:

  1. Passando, elogiando a publicação, e desejando, um Feliz dia internacional da mulher. Não existe, e contra mim falo, a força que o coração e a alma de uma MULHER tem
    .
    Hoje escrevi: “ É lindo o coração da mulher “
    .
    Pensamentos e Devaneios Poéticos

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  2. Mário Vargas Llosa é mesmo um bom exemplo. Pelo que se afirma no texto e pelo que não.

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  3. Uma homenagem muito sentida, à qual me associo. O poema de Gedeão que sei de cor, é mesmo o poema certo e representativo daquilo para que as mulheres têm de ter coragem. Obrigada.
    Uma boa semana com muita saúde.
    Um beijo.

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  4. Excelente este texto.
    Um excelente momento e um poema espectacular de Gedeão!
    Tanta, tanta Luísa por este mundo.
    Gosto muito de ouvir Carlos Mendes a cantar este poema.
    Bonita a sua homenagem.
    Brisas doces *

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