Queixamo-nos do isolamento, de termos de ficar, sozinhos ou acompanhados, confinados ao espaço de uma casa ou de um apartamento. Alguns têm a sorte de viver numa casa com jardim ou quintal, outros, a sorte de habitarem uma casa com varandas amplas, soalheiras (como eu), outros - melhor ainda - a sorte de viverem no campo e de poderem usufruir desse espaço sem terem de se cruzar com outras pessoas. Muitos de nós estamos ainda, felizmente, de saúde e conectados com o mundo de diversas formas e, por isso, a sensação de isolamento atenua-se.
Queixamo-nos do isolamento, mas, na verdade, queixamo-nos (ocultando as palavras) do medo - de que a pandemia alastre, de que esta situação não tenha fim, de que o "bicho" se instale em nós e, mais ainda, num dos nossos.
Não é a sensação de claustrofobia que me assalta e me assusta quando desperto, é esta impressão de pesadelo que não se dissipa, quando saio da cama, ponho os pés no chão e lavo a cara.
Tenho estado diária e quase permanentemente em contacto com as pessoas com as quais trabalho, à distância. Enquanto não nos adaptamos a esta novidade que é o teletrabalho (hoje já tive uma reunião de duas horas), gastamos muito mais tempo do que seria expectável num dia normal de trabalho a comunicar com os outros, porque é preciso testar aplicações e canais de comunicação, que nem sempre funcionam, responder a e-mails e mensagens individuais repetidas vezes. E tudo isto cansa, mas tudo isto nos distrai, sobretudo quem vive só, deste clima pesado que nos caiu em cima.
Nestes dias, tenho-me lembrado de livros como O relato de um náufrago, do Gabriel Garcia Marquez, e Teoria geral do esquecimento, do José Eduardo Agualusa. No primeiro, conta-se a história verídica de um homem que terá estado sozinho numa balsa, em pleno alto mar, durante onze dias. Quando li a resenha, perguntei-me o que teria de novo para contar em cada dia alguém que, durante tantos dias, se vê sozinho rodeado de água. Constatei, depois, que em cada dia havia pormenores que o tornavam diferente do anterior. No segundo, narra-se a história de uma mulher que vive em Luanda e que, na véspera da independência, se barrica no apartamento, onde fica isolada durante quase trinta anos. Durante esse tempo, Ludovica escreve para não enlouquecer e que, quando já não tem papel para o fazer, começa a escrever nas paredes.
Tenho, no fim de cada dia, como Ludovica, escrito um relato de tudo o que fiz e de todas as interações (por telefone ou por escrito) com familiares, amigos ou colegas de trabalho (alguns dos quais são também amigos) - nunca recebi tantos telefonemas, e-mails ou mensagens no WhatsApp em tão pouco tempo. Constato que, como os do náufrago, também os meus dias têm sido diferentes uns dos outros e que, ao contrário do que aconteceria há alguns anos e ainda acontece hoje com algumas pessoas, estou longe de estar isolada! Bendita tecnologia!
Fiquem todos muito bem!
Não é a sensação de claustrofobia que me assalta e me assusta quando desperto, é esta impressão de pesadelo que não se dissipa, quando saio da cama, ponho os pés no chão e lavo a cara.
Tenho estado diária e quase permanentemente em contacto com as pessoas com as quais trabalho, à distância. Enquanto não nos adaptamos a esta novidade que é o teletrabalho (hoje já tive uma reunião de duas horas), gastamos muito mais tempo do que seria expectável num dia normal de trabalho a comunicar com os outros, porque é preciso testar aplicações e canais de comunicação, que nem sempre funcionam, responder a e-mails e mensagens individuais repetidas vezes. E tudo isto cansa, mas tudo isto nos distrai, sobretudo quem vive só, deste clima pesado que nos caiu em cima.
Nestes dias, tenho-me lembrado de livros como O relato de um náufrago, do Gabriel Garcia Marquez, e Teoria geral do esquecimento, do José Eduardo Agualusa. No primeiro, conta-se a história verídica de um homem que terá estado sozinho numa balsa, em pleno alto mar, durante onze dias. Quando li a resenha, perguntei-me o que teria de novo para contar em cada dia alguém que, durante tantos dias, se vê sozinho rodeado de água. Constatei, depois, que em cada dia havia pormenores que o tornavam diferente do anterior. No segundo, narra-se a história de uma mulher que vive em Luanda e que, na véspera da independência, se barrica no apartamento, onde fica isolada durante quase trinta anos. Durante esse tempo, Ludovica escreve para não enlouquecer e que, quando já não tem papel para o fazer, começa a escrever nas paredes.
Tenho, no fim de cada dia, como Ludovica, escrito um relato de tudo o que fiz e de todas as interações (por telefone ou por escrito) com familiares, amigos ou colegas de trabalho (alguns dos quais são também amigos) - nunca recebi tantos telefonemas, e-mails ou mensagens no WhatsApp em tão pouco tempo. Constato que, como os do náufrago, também os meus dias têm sido diferentes uns dos outros e que, ao contrário do que aconteceria há alguns anos e ainda acontece hoje com algumas pessoas, estou longe de estar isolada! Bendita tecnologia!
Fiquem todos muito bem!
É verdade! As tecnologias são óptimas neste tempo de isolamento.
ResponderEliminarOs meus dias têm sido muito cheios e ocupados, tal como os teus. Não me aborreço, só me custa muito, tudo o que se vê na televisão. Hoje fui ao Jumbo, à farmácia e ao quiosque. Ao vermos a cidade vazia, a maneira como procedemos nos locais de venda (ainda refilei com uma madame que me chateou o juízo, na fila do Jumbo), depois todos os cuidados ao chegar a casa...parece-me ainda uma espécie de sonho mau e pergunto-me até quando vamos viver assim e o que vai ser depois disto?
É estranho, é assustador e ao mesmo tempo temos que aceitar calmamente, pois não adianta proceder de outra forma.
Beijinhos e cuida-te:))
Continua a ser assustador e, infelizmente, a situação parece não melhorar, Isabel.
EliminarTenho estado, nestas semanas, certamente como tu, ocupada com o teletrabalho e, por isso, estou mais distraída e ocupada.
Não tenho saído, mas vou ter de o fazer em breve.
Beijinhos, Isabel, e muita saúde!
é verdade. sem internet e tecnologia seria muito mais complicado!
ResponderEliminarBeijinhos e muita saúde!
Beijinhos, ana, e muita saúde! :)
EliminarE que seja, apesar de tudo, um tempo de escrita, porque a escrita é
ResponderEliminara marca dos tempos e das gentes!
Tenho andado um pouco mais motivada para a escrita... espero que não passe!
EliminarMuita saúde! :)
Um texto muito bem escrito e com ideias interessantes, Deep!
ResponderEliminarVivemos tempos diferentes, esquisitos, diria mesmo, mas creio que nos estamos a adaptar.
Preciso também de escrever, diariamente, e isso alivia imenso, embora eu não esteja stressada, nem sofra de fobias.
Também trabalho a partir de casa, sou Professora, e as coisas têm corrido bem. As redes sociais, quando bem aproveitadas, são como membros da nossa família.
Beijinho e que continuemos com esperança!
Obrigada, Céu.
EliminarA escrita pode ter esse efeito, ser alívio.
Bom trabalho e muita saúde!
Beijinhos :)