«Yo, señor, no soy malo,
aunque no me faltarían motivos para serlo.» - assim começa a autobiografia
fictícia de Pascual Duarte, figura central da novela de Camilo José Cela, A Família de Pascual Duarte, publicada
pela primeira vez em 1942.
Com o intuito de conferir verosimilhança ao relato de
Pascual Duarte, o autor apresenta-o como um manuscrito que o protagonista teria
escrito enquanto esteve preso em Badajoz e que teria enviado, em 1937, a um
conhecido seu, para que fosse publicado, tornando, assim, públicos os motivos
dos vários crimes que cometera. Cela, em notas anteriores e posteriores ao
discurso do protagonista, faz-nos acreditar que o manuscrito teria sido
encontrado no balcão de uma farmácia na localidade de Almendralejo, pelo
próprio transcritor. Entre essas notas, encontra-se a carta em que o
prisioneiro recomendava a publicação do seu manuscrito.
Pascual Duarte, habitante numa pequena aldeia do
interior de Espanha, dá-nos conta, no seu relato, de que a vida lhe trouxe mais
dissabores do que alegrias. Testemunha de um mundo em que prevalece o trágico,
torna-se uma pessoa amarga e intempestiva, a vítima de um destino inexorável,
que o conduz à perdição. É, aliás, ao destino que ele atribui a responsabilidade
pela sequência de assassinatos que comete, que tem início com a morte da
cadela, a Chispa, e que termina com a morte da própria mãe.
Pela violência das descrições e pela crueza de
linguagem que perpassam nas suas páginas, a primeira obra de Cela viu-se, em
pleno franquismo, entre os livros proibidos e rotulada como precursora de um
estilo literário que, em Espanha, ficou conhecido como “Tremendismo”.
Camilo José Cela, que nasceu em Iria Flávia
(Corunha), em 1916, e faleceu em Madrid, em 2002, foi galardoado, em Espanha,
com o Prémio Nacional de Literatura e com o Prémio Príncipe das Astúrias. Em
1989, a academia sueca atribuiu-lhe o Prémio Nobel, pelo conjunto da sua obra.
Da sua vasta obra, destacam-se, além de A Família de Pascual Duarte, A Colmeia (1951), São Camilo (1969) e Mazurca
para Dois Mortos (1983).
[Texto escrito para a rubrica "Os livros que nos devoram" (título inspirado em Os livros que devoraram o meu pai, do Afonso Cruz), do Pomar de Letras]
Olá
ResponderEliminarlembraste de mim? beijos
Claro que sim, Gala! Sê bem regressada. Beijos
EliminarNada é perfeitamente inútil
ResponderEliminarÉ certo, Mar Arável. :)
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