sábado, abril 21, 2018

uma vez ou outra

Os amigos vêm uma vez ou outra e sentam-se, 
mostram-te como são dóceis ou difíceis, ou 
como a morte se impede, por eles, de chegar 
até ti. São uma barreira contra a morte, 

os amigos, acaricias vagamente o seu rosto 
ou a sua memória, as palavras não servem 
para isso. Por eles vem a geometria do mundo, 
neles se perde depois, nem que seja para sempre. 

Vê como eles chegam e trazem vinho, tabaco, 
vergonha, cartas antigas, recortes de jornais, 
músicas que ouvimos antes. Depois sentam-se 

chamam-te para o meio deles, emprestam-te 
uma palavra ou outra, caminham com vagar, 
riem, trazem coisas que esqueces por toda a casa. 

Francisco José Viegas, O puro e o impuro

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