sexta-feira, novembro 24, 2017

Fui despedir-me


Fui despedir-me de ti. Não de ti, na verdade. Fui despedir-me da tua forma física.
Vesti uma túnica azul céu e pus sobre ela um lenço com pequenas flores a lembrar o campo.
Comprei-te um ramo de margaridas, uma das tuas flores preferidas. Por ser feriado, havia menos lojas de flores abertas, por isso não encontrei as amarelas, só brancas. Um ramo simples, sem enfeites nem etiquetas. Que importa que os outros saibam que tas ofereci? Isto fica entre nós, como as longas conversas que tivemos durante anos e que, muitas vezes, à distância, apaziguaram a tua e a minha solidão.
Acautelei, no bolso, não fosse alguém lembrar-se de programar uma tertúlia para a despedida, um estreito volume com a poesia de Caeiro. Sei que o teu eleito era o Campos, mas que também nutrias pelo Mestre alguma simpatia.

Fui despedir-me de ti no outono, quando era suposto haver folhas secas no chão.

Um devaneio escrito, no dia 5 de Outubro, em homenagem a um amigo, e que hoje dedico também ao Pedro Rolo Duarte, que, não sendo um amigo, era alguém que respeitava e cujas crónicas costumava ler também aqui.

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