«Estou cansada, diz.
São só três quilómetros, diz Elisabeth.
Não me
refiro a isso, diz a mãe. Estou cansada do noticiário. Estou cansada do
modo como torna espetacularss coisas que não o são e da maneira
simplista como aborda o que é verdadeiramente aterrador. Estou cansada
do azedume. Estou cansada da raiva. Estou cansada da mesquinhez. Estou
cansada do egoísmo. Estou cansada de nada fazermos para lhe pôr fim.
Estou cansada do modo cono o encorajamos. Estou cansada da violência que
existe e estou cansada da violência que está a caminho, que aí vem, que
ainda não aconteceu. Estou cansada de mentirosos. Estou cansada de
mentirosos santificados. Estou cansada de como esses mentirosos
permitiram que isso acontecesse. Estou cansada de ter de me perguntar se
o fizeram por estupidez ou se o fizeram de propósito. Estou cansada de
governos mentirosos. Estou cansada de as pessoas não quererem saber se
lhes continuam a mentir. Estou cansada de me ver obrigada a sentir-me
tão apavorada. Estou cansada da animosidade. Estou cansada da
pusilanimosidade.
Não creio que essa palavra exista, diz Elisabeth.
Estou cansada de não saber as palavras certas, diz a mãe.»
Ali Smith, Outono
Trouxe daqui as palavras com as quais, mais do que nunca,me identifico.
Obrigada, Carriço, pela partilha e... desculpa o roubo!
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