Conheço-o há alguns anos. Não recordo se por ter trabalhado com um familiar próximo. Sempre que me encontra, pergunta-me pelo meu pai, que conhece há muitos mais anos. Reformou-se cedo e cedo começou a vaguear pelas ruas e a fazer dos cafés poiso habitual. Com o tempo, o seu aspecto, mais fruto da bebida do que da idade, foi-se degradando. Ultimamente, vejo-o muitas vezes no jardim, quando vou ao quiosque alguns fins de tarde. O corpo e o olhar denunciam a mesma ansiedade de alguns traficantes que também param por lá. Quando está menos ébrio, cumprimenta-me, sempre com respeito e deferência. Outras vezes, evita-me; outras ainda, de tão bêbado, não dá por mim.
Hoje, no fim da manhã, quando o jardim começava a ficar vazio, esperou que a amiga que estava comigo entrasse no carro, para me abordar. Com a educação de sempre, perguntou-me se podia pedir-me um favor. Acrescentou que esquecera o cartão multibanco em casa e que precisava de comer qualquer coisa. «Se puder emprestar-me 3 ou 4 euros... quando voltar a vê-la, dou-lhos.», disse. Fiquei sem saber o que fazer. Acabei por lhe dar 4 euros que tinha no porta-moedas, mesmo sabendo que os gastaria, dentro de minutos, em bebida.
deep, também sinto muitas vezes esse dilema. Já cheguei a acompanhar pessoas para comer, mas nem sempre é possível e nem sei se se deva fazer ou se adianta. Creio haver de tudo: quem precisa realmente, quem precisa porque é desorientado, entre outras versões. Esforço-me por não me penalizar com a atitude que tome na altura, que também não tenho obrigação de adivinhar quem está do lado errado e eu própria tenho o direito de errar.
ResponderEliminarBoa semana!
ResponderEliminarUma história igual a outras histórias, num país em que envelhecer é, tantas vezes, empobrecer, [mais ainda] e não sei se, consequência ou não, ficar só, entregue a uma qualquer vício, desde que barato.
Um bom domingo!
Bj.
Lídia
rQuantas dúvidas destas não sinto também, já experimentei o ir com a pessoa comprar a comida directamente ao balcão de um café, mas nem isso me fez sossegar...é claramente uma forma de mostrarmos que desconfiamos da pessoa e do destino do dinheiro que lhe vamos dar.
ResponderEliminar~CC~
Isabel, também já me aconteceu oferecer-me para pagar refeições, sobretudo com crianças. Uma vez, no parque de estacionamento de um supermercado, uma mulher de nacionalidade estrangeira, de leste supus, pediu-me dinheiro. Ofereci-me para comprar comida, depois de ela garantir que esperaria por mim. Enchi um saco com alguns produtos alimentares. Quando cheguei à rua, ela tinha desaparecido. Claramente, preferia dinheiro. Nunca sabemos, de facto, quando estamos a agir bem.
ResponderEliminarLídia, o senhor, na verdade, não tem muita idade, e, segundo sei, tem reforma, uma filha licenciada a trabalhar. Infelizmente, o mal é outro. Teria tudo para viver um período de reforma com conforto.
CC, muitas vezes, a pobreza de quem pede não resulta apenas da falta de dinheiro, mas sobretudo da falta de orientação. Fico céptica quando assim é, porque sinto que o problema é maior e de mais difícil solução.
Boa semana para todas. Abraços apertados.
a bebida é a comida da alma
ResponderEliminarLuís, depois de uns copos, quem se lembra que tem alma?
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