domingo, maio 07, 2017

Feliz dia, mães!


Um desenho da mana

Poema à mãe

No mais fundo de ti, eu sei que traí, mãe 

Tudo porque já não sou 
o retrato adormecido 
no fundo dos teus olhos. 

Tudo porque tu ignoras 
que há leitos onde o frio não se demora 
e noites rumorosas de águas matinais. 

Por isso, às vezes, as palavras que te digo 
são duras, mãe, 
e o nosso amor é infeliz. 

Tudo porque perdi as rosas brancas 
que apertava junto ao coração 
no retrato da moldura. 

Se soubesses como ainda amo as rosas, 
talvez não enchesses as horas de pesadelos. 

Mas tu esqueceste muita coisa; 
esqueceste que as minhas pernas cresceram, 
que todo o meu corpo cresceu, 
e até o meu coração 
ficou enorme, mãe! 

Olha — queres ouvir-me? — 
às vezes ainda sou o menino 
que adormeceu nos teus olhos; 

ainda aperto contra o coração 
rosas tão brancas 
como as que tens na moldura; 

ainda oiço a tua voz: 
          Era uma vez uma princesa 
          no meio de um laranjal...
 

Mas — tu sabes — a noite é enorme, 
e todo o meu corpo cresceu. 
Eu saí da moldura, 
dei às aves os meus olhos a beber, 

Não me esqueci de nada, mãe. 
Guardo a tua voz dentro de mim. 
E deixo-te as rosas. 

Boa noite. Eu vou com as aves. 

Eugénio de Andrade, Os Amantes Sem Dinheiro

3 comentários:

  1. Bonita homenagem! Gosto do desenho, também.

    Um beijo grande, Luísa!
    Paula

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  2. É lindo, este poema e ADOREI o desenho da tua mana!

    Espero que tenha sido um domingo feliz para ti, a tua mãe e as mães da tua família:)

    Beijinhos e uma boa semana:)

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  3. Paula, obrigada. Espero que tenhas tido um dia feliz! Gosto de te ver por cá. :) Beijinho grande

    Isabel, obrigada. Tive um dia bom, sobretudo com companhia feminina: mãe, tias e algumas primas. Espero que o teu dia e o da tua mãe tenha sido bom. :)

    Beijinhos e uma boa semana também para ti

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