quinta-feira, março 09, 2017

Também eu


... conheço algumas,

da geração dos meus pais, que viveram e ainda vivem para a família, que são, como a avó Josefa do Saramago, traves da casa, silenciosas e resignadas.
Por vezes, oiço os filhos elogiar-lhes a força, o sacrifício de uma vida, mas são os mesmos que continuam a ocupá-las para que eles possam ter uma vida mais confortável e de certos mimos que só as mães sabem fazer daquela maneira. Os mesmos que lamentam a sorte dessas mulheres não são capazes de um gesto generoso que as liberte e as faça sentir mais do que escravas dos maridos, dos filhos, dos netos, da casa.
Infelizmente, apesar de vivermos em pleno século XXI, num país supostamente evoluído, convivo com mulheres da minha geração que, exercendo uma profissão, que lhes ocupa tempo fora e dentro de casa, continuam, em certa medida por opção, porque não souberam dizer «não» a tempo, a ser escravas da casa, do marido, dos filhos. São mulheres "modernas", que se preocupam com a aparência, que vestem de forma juvenil, que tomam café com as amigas a correr, porque em casa as espera um cesto de roupa para passar ou o jantar para fazer. São essas mulheres que se lamentam que surpreendo, não raras vezes, a apontar o dedo àquelas que procuram ter uma vida diferente e que "têm a sorte" de que os maridos as "ajudem". Nem umas têm azar, porque, frequentemente, são responsáveis por esse "azar", nem as outras têm sorte, têm só aquilo que deveria ser tão natural que não merecesse comentários e reflexões ou a necessidade de se celebrar um Dia da Mulher.

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