domingo, novembro 20, 2016

Flores de domingo

Limpou o pó,
espanou os tapetes,
aspirou e passou a esfregona,
pelas madeiras passou cera,
fez a cama de lavado,
lavou os vidros das janelas,
os espelhos,
o candeeiro do tecto da sala,
o fogão e o forno,
o boião aquário com dois peixes,
mudou a areia da caixa do gato,
regou as plantas nos vasos,
cortou as folhas secas,
fez uma sopa para a semana,
comeu um prato de sopa,
saiu de casa para tomar café,
o seu único vício,
mentira, café, arrumações e limpezas,
de regresso a casa comprou flores,
uma extravagância,
um ramo de flores que pagaria os cafés de um mês inteiro,
pois é, pensou, a relevância do dinheiro,
e enquanto arrumava as flores,
tão competente que podia ter sido florista,
não sabe mas seria uma florista feliz,
não admite mas é uma contabilista triste,
uma a uma, as horas de um dia, duas dúzias,
deu por si a pensar
se conseguisse arrumar o coração
como arruma a casa
podia dizer que era feliz.

Raquel Serejo Martins

Surripiado do mural de Facebook da autora.
Apesar de o meu domingo ter sido bem diferente, em boa companhia.

2 comentários:

  1. Com tanto treino nas arrumações, vai acabar por também conseguir arrumar o coração. Além do mais, as flores são meio caminho andado para isso.
    :)

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  2. Quem sabe, Luísa... :)

    Boa semana.

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