domingo, fevereiro 21, 2016

Livros esquecidos, a acumular pó

Sou, por vezes, o livro esquecido
que algum leitor descuidado
deixou abandonado ao pó,
à impiedade do tempo.

Sou grosso volume
de folhas gastas e amarelecidas,
onde repousam cópias de breves aguarelas
de um pintor menor,
que as horas vão convertendo em
ténues gravuras.

Falta-me a exuberância de outros
volumes,
o banho a ouro que se exibe
na estante da sala – de madeira nobre -
para causar inveja às visitas.

Porém, sonho ainda
com o sopro que há-de folhear-me
e voltar uma das minhas páginas,
anseio ainda por um fim de tarde
que, intrometendo-se pela calma,
me devolva a luz,
pelo curioso que saiba
ler-me nas entrelinhas.

deep, Junho de 2013

Há dias - dias demais - em que não consegues senão sentir-te um livro esquecido, cujo volume assusta e cuja capa não é suficientemente apelativa para que alguém se dê ao trabalho de o abrir.

5 comentários:

  1. Essa imagem do livro esquecido tocou-me fundo. Sim. Tenho dias desses.


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  2. Olá Deep,

    Hoje vim folhear algumas páginas do seu livro.As vezes o mesmo estando na estante só de enfeite,ainda é certo que a qualquer momento tenha alguém interessado a conhecê-lo.
    Há períodos assim.Só temos que ter a paciência de saber passar bem esses momentos.
    Votos para que estejas em paz consigo.
    Beijinhos!

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  3. Luísa, talvez todos tenhamos dias desses. Felizmente, há outros dias em que nos sentimos bem, em que nos julgamos outra coisa ou em que nos sentimos bem na pele de grossos volumes empoeirados! Obrigada. Um beijo :)

    Kátia, obrigada. Ainda bem que, afinal, alguém se dá ao trabalho de se aproximar e de espreitar para o nosso interior.
    Beijinhos :)

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  4. Sentido, Luísa!
    Eu tenho uma teoria, de que às vezes mais vale ... ;)
    Um abraço de coração!

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  5. Obrigada, Paula. :)

    Talvez tenhas razão.

    Um abraço apertado para ti.

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