quinta-feira, outubro 15, 2015

Em protesto


(Jacek Yerka, "The walking lesson")

Sabe agora que não devia ter desprezado os sinais dos relógios. Devia ter percebido que um relógio quando pára está em protesto. No seu caso, os três relógios de pulso que tinha a uso foram amuando, um após o outro. Até o relógio da cozinha se solidarizou, atrasando-se alguns minutos.Os relógios param, toda a gente sabe isso. Já tinha acontecido com alguns deles outras vezes. Nada de novo. A novidade está no facto de se terem unido em protesto. Queixaram-se que o pulso dela não batia como antes. Reivindicavam, portanto, melhores condições de trabalho. Explicou-lhes que o responsável não era o pulso, mas o coração. Prometeu-lhes que faria tudo para que não tivessem motivos para queixas. Disse-lhes que começaria por comprar pilhas e que, logo que possível, arrumaria o coração, alimentá-lo-ia para garantir o seu funcionamento pleno.

5 comentários:

  1. são promessas inadiáveis e que têm que ser cumpridas, senão o preço é muito alto.

    tenha, por dentro, um dia tão bonito, como está, por fora :)

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  2. O coração é um músculo

    não pensa nem sente
    move-se apenas como um relógio a pilhas

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  3. É um esforço que terá de ser feito, ana.

    Obrigada. Um bom resto de dia para si. :)

    O Puma, mas finge que sente... a "entreter a razão". :)

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  4. Um relógio pode parar apenas para nos acrescentar liberdade. Não há nada mais livre que um relógio parado (ponteiros parados).
    Bom dia, deep.

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  5. Tens razão, Isabel. :) Vivemos subjugados pela impiedade dos relógios. Quando se calam temos, pelo menos, a ilusão de liberdade. :)

    Um bom dia, Isabel. :)

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