domingo, julho 12, 2015

Sobre os amigos

«Quando nos confrontamos com a amizade sentimos todos a dificuldade de exprimi-la, pois entramos num campo onde não há espaço para muitas declarações, e soam despropositados os longos discursos… existem, sim, histórias de vida. Existem nomes, rostos, vivências… Existe o indizível da presença, a coreografia fiel e criativa dos gestos. Mesmo quando se trata de uma amizade intensa, a amizade não deixa de ser uma experiência discreta, ainda que gere marcas humanas e espirituais inapagáveis. (…) 
Um amigo, por definição, é alguém que caminha a nosso lado, mesmo se separado por milhares de quilómetros ou por dezenas de anos. O longe e a distância são completamente relativizados pela prática da amizade. De igual maneira, o silêncio e a palavra. Um amigo reúne estas condições que parecem paradoxais: ele é ao mesmo tempo a pessoa a quem podemos contar tudo e é aquela junto de quem podemos estar longamente em silêncio, sem sentir por isso qualquer constrangimento. A amizade cimenta-se na capacidade de fazer circular o relato da vida, a partilha das pequenas histórias, a nomeação verbal do lume mais íntimo que nos alumia. A amizade é fundamentalmente uma grande disponibilidade para a escuta, como se aquilo que dizemos fosse sempre apenas a ponta visível de um maravilhoso mundo interior e escondido, que não serão as palavras a expressar. (...)
O modo como uma grande amizade começa é misterioso. Podemos descrevê-lo como um movimento de empatia que se efetiva, um laço de afeição ou de estima que se estreita, mas não sabemos explicar como é que ele se desencadeia. Irrompe em silêncio a amizade.

José Tolentino Mendonça

Ontem, fui à terra onde vivi quase toda a infância e adolescência, tomar um café com um velho amigo do peito. Apesar de vivermos longe e de estarmos muito tempo sem falarmos, há esse "laço de afeição" que nos tem unido ao longo dos anos e que eu muito prezo.

2 comentários:

  1. Com os "Velhos amigos" podemos estar anos sem nos vermos e falarmos, que quando nos encontramos é como se nos tivéssemos visto ontem.

    Gostei deste texto, que me fez lembrar o título de um livro do Richard Bach "Não há longe nem distância".

    Bom domingo:)

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  2. Isabel, costumo usar como medidor da amizade o facto de, depois de muito tempo de ausência, ter a sensação de ter estado com a pessoa no dia anterior e sentir o mesmo à vontade.

    Li esse livro há muitos anos. :)

    Boa semana. Beijinhos

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