domingo, outubro 26, 2014

Das minhas leituras

«Não nos conhecemos. É impossível conhecer outra pessoa, embora em certos momentos sejamos capazes de intuir o que se prepara para dizer ou está a pensar. Há sempre um recanto escuro, uma faceta que, mesmo ao fim de muitos anos, não deixaria de nos surpreender, talvez até de nos aterrorizar, caso a descobríssemos. Em algum lugar de nós mesmos, estamos sozinhos, ninguém nos pode acompanhar, mas isso não é motivo para rejeitarmos ou menosprezarmos esse território em que podemos entrar pela mão de alguém, talvez alargando-o, conquistando às ervas daninhas zonas onde semear.»


«Envelhecer torna-nos feios, não há volta a dar, e pergunto-me se, apesar de tudo, será possível continuarmos a olhar-nos com desejo; ou se o desejo será substituído por outro sentimento que agora não conheço ou não identifico. Sinto curiosidade, é a primeira vez, por saber que vida podemos levar com alguém que está há décadas ao nosso lado. Será isto conformismo, apego ao desconhecido por receio à solidão? Renúncia à paixão, ao desejo autêntico? Ou haverá alguma coisa que compense a perda, embora neste momento não me passe pela cabeça sequer o que poderá ser?»

José Ovejero, A invenção do amor

2 comentários:

  1. Há sim.
    Mas dá muito trabalho e um empenhamento constante, para não deixar "isso" dissolver-se nas constâncias do quotidiano.
    Acho eu, ainda.
    :)

    Abraço

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  2. Helena, acredito que há e que vale muito a pena, ainda que dê trabalho.
    :)

    Abraço

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