domingo, janeiro 12, 2014

Inverno

3.

No meio do Inverno, as laranjas, num cesto de vime
sob o alpendre onde se acumulava a palha, o musgo,
o bosque inteiro, retirado ao olhar desatento.

Não tem arquitectura o tempo. Uma desordem e uma
ausência atravessam-no, dão-lhe vagar, o reflexo
dos olivais, nus, subindo desde o rio até ao largo

da aldeia. Há vasos com cinza, depois se espalhará com
a palma da mão, sobre o vento e os campos. Há-de chegar
a cidreira, a flor da cerejeira, o que muda nas árvores
os reflexos e a idade. Deixa o tempo a sua marca

e o Inverno as inscrições na pedra, ano sobre ano,
sobre a chuva fria, a respiração cautelosa do tempo.
Depois, vêm os trevos, o ruído da cancela a abrir
para o quintal, mais tarde, com a chegada dos melros.


Francisco José Viegas, Metade da vida

1 comentário:

  1. Muito lindo o poema!! Super adorei!! Desejo-te um fantástico ano de 2014,tudo de bom para ti!! Fica com deus!! http://musiquinhasdajoaninha.blogspot.pt

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