terça-feira, novembro 26, 2013

Pretérito Perfeito (I)

«Para que serviu a minha vida? Pergunto-me e não sei responder. Por mais que pense, não sei responder.
Com certeza, apenas sei dizer que tentei ser feliz e que acho que nunca fiz mal a ninguém e mesmo assim, melhor salvaguardar a afirmação enxertando entre vírgulas, depois do nunca, a palavra conscientemente, porque no fundo nós não sabemos o que fazemos aos outros, em bom rigor só conhecemos a nossa intenção no fazer e mesmo nisso somos tantas vezes cínicos e fáceis a convencer-nos que as nossas intenções são obviamente as melhores intenções, que não podiam deixar de ser as melhores intenções, depois, os resultados, em regra, são incapazes de revelar a qualidade das intenções, ou não fossem as melhores intenções causadoras das maiores desgraças, dos maiores desastres, depois, dizem que de boas intenções está o inferno cheio.»

Raquel Serejo Martins, Pretérito Perfeito

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