Desce ao abismo.
Bebe o sangue da terra e absorve-o
por cada poro do teu corpo
como se cada ferida fosse o preço
de outra ferida maior.
Desce ao abismo e vê
como trabalha o ódio,
como o ensinam às crianças,
como é fácil a morte.
Há uma estrela de seis pontas
que só te pede vida,
um céu onde te aguarda desde sempre
a porta mais estreita.
Não tenhas medo:
desce ao abismo e estende agora
a tua mão. Com ela
agarras outra mão e atravessas
a noite
o deserto
um espelho de mil faces que te mostra
a cor de cada rosto.
Dá o primeiro passo, recupera
a sede mais antiga,
o primeiro milagre, a “confiança
da árvore no seu fruto”.
Lê de novo esse livro em voz baixa:
cada palavra que disseres
celebra ainda a tua dor
e brilha como as lágrimas de Deus
em cada vértice da estrela.
Fernando Pinto do Amaral, Poemas escolhidos
Um belo poema.
ResponderEliminarMuito, sem dúvida. :)
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