Tendemos a evitar a tristeza alheia, receosos, talvez, de acordarmos os nossos fantasmas e de, num eventual confronto, sairmos derrotados. Preferimos passar ao lado ou descansar a consciência, pronunciando breves palavras de ânimo que, mais do que reticências ou dois pontos, soam a ponto final.
Num tempo em que tudo se vende e se aluga, receamos oferecer por demasiado tempo, sem contrapartida, o ombro que, noutros tempos mais lentos e generosos, se apelidou de “amigo”.
Pior do que isso: apavora-nos a perspectiva de, pelas palavras que proferimos, podermos cair num sentimentalismo exagerado que nos faça parecer ridículos e que manche a nossa imagem de homens e de mulheres sérios, fortes e responsáveis. Por igual motivo, omitimos os abraços.
Por isso, preferimos iludir a dor, a dos outros e a nossa, com faits-divers, com problemas sérios e palpáveis (que não nos assustem pela ambiguidade), preferimos fingir uma juventude que se eterniza na imagem, nos gestos e no riso fácil, preferimos os diálogos breves que não nos obriguem ao desconforto de um olhar-nos-olhos prolongado, preferimos não ter de colocar questões para não termos de perder tempo em busca das respostas.
E com tudo isso, promovemos o isolamento e a alienação individuais e alheios. No fim, todos perdem. Também por isso, há que preservar o privilégio da companhia dos que fogem à regra.
ResponderEliminarUm abraço e um bom fim-de-semana.
É precisamente isso que eu tenho sentido nos últimos tempos, R.
ResponderEliminarUm abraço e votos de óptimo fim-de-semana. :)