Escrevias pela noite fora. Olhava-te, olhava
o que ia ficando nas pausas entre cada
sorriso. Por ti mudei a razão das coisas,
faz de conta que não sei as coisas que não queres
que saiba, acabei por te pensar com crianças
à volta. Agora há prédios onde havia
laranjeiras e romãs no chão e as palavras
nem o sabem dizer, apenas apontam a rua
que foi comum, o quarto estreito. Um livro
é suficiente neste passeio. Quando não escreves
estás a ler e ao lado das árvores o silêncio
é maior. Decerto te digo o que penso
baixando a cabeça e tu respondes sempre
com a cabeça inclinada e o fumo suspenso
no ar. As verdades nunca se disseram. Queria
prender-te, tornar a perder-te, achar-te
assim por acaso no meu dia livre a meio
da semana. Mantêm-se as causas iguais
das pequenas alegrias, longe da alegria, a rotina
dos sorrisos vem de nenhum vício. Este abandono
custa. Porque estou contigo e me deixas
a tua imagem passa pelas noites sem sono,
está aqui a cadeira em que te sentaste
a escrever lendo. Pudesse eu propor-te
vida menos igual, outras iguais obrigações.
Havias de rir, sair à rua, comprar o jornal.
Helder Moura Pereira in De Novo as Sombras e as Calmas
Com um grande obrigada à Marta, que permitiu que eu a "roubasse". :)
muito bonito.
ResponderEliminar...não precisas nem agradecer querida Deep!
ResponderEliminar...e de lá podes trazer tudo sem pedir, tb é teu.
bjo e bom fim de semana
Maravilhoso! E um grande obrigada a ambas por possibilitarem esta partilha. Vou incluí-la na minha 'lista de espera' :)
ResponderEliminarUm abraço e um bom fim de semana!
As verdades existem
ResponderEliminarporque são plurais
Muito bom texto
Obrigada a todos, pelas palavras e pela simpatia das palavras. Bom resto de semana. :)
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