(...)
Não durmo, jazo, cadáver acordado, sentindo,
E o meu sentimento é um pensamento vazio.
Passam por mim, transtornadas, coisas que me sucederam
— Todas aquelas de que me arrependo e me culpo;
Passam por mim, transtornadas, coisas que me não sucederam
— Todas aquelas de que me arrependo e me culpo;
Passam por mim, transtornadas, coisas que não são nada,
E até dessas me arrependo, me culpo, e não durmo.
Não tenho força para ter energia para acender um cigarro.
Fito a parede fronteira do quarto como se fosse o universo.
Lá fora há o silêncio dessa coisa toda.
Um grande silêncio apavorante noutra ocasião qualquer,
Noutra ocasião qualquer em que eu pudesse sentir.
(...)
Tenho sono, não durmo, sinto e não sei em que sentir.
Sou uma sensação sem pessoa correspondente,
Uma abstracção de autoconsciência sem de quê,
Salvo o necessário para sentir consciência,
Salvo — sei lá salvo o quê...
Não durmo. Não durmo. Não durmo.
Que grande sono em toda a cabeça e em cima dos olhos e na alma!
Que grande sono em tudo excepto no poder dormir!
(...)
F. Pessoa-Álvaro de Campos
Pela hora da publicação, foi mesmo uma grande insónia!
ResponderEliminarBom domingo.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarHá Pessoas que dizem coisas que eu gostaria só de saber recordar... e há Outras que sabem mm quando as devem recordar...
ResponderEliminarbom começo de semana...
bjokas, mtas
maria3
Lídia, não foi das piores...
ResponderEliminarmaria3, quem dera saber usar as palavras como alguns poetas. Há outras pessoas que sabem senti-las...
Boa semana para ambas. Beijocas
Esse manda muito bem...ainda mais como Álvaro de Campos...boa pedida!
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