Vieste como um barco carregado de vento,
abrindo feridas de espuma pelas ondas.
Chegaste tão depressa
que nem pude aguardar-te ou prevenir-me; e só ficaste
o tempo de iludires a arquitectura fria do estaleiro
onde hoje me sentei a perguntar como foi que partiste,
se partiste,
que dentro de mim se acanham as certezas e
tu vais sempre ardendo, embora como um lume
de cera, lento e brando, que já não derrama calor.
Tenho os olhos azuis de tanto os ter lançado ao mar
o dia inteiro, como os pescadores fazem com as redes;
e não existe no mundo cegueira pior do que a minha:
o frio do horizonte começou ainda agora a oscilar,
exausto de me ver entre as mulheres que se passeiam
no cais como se transportassem no corpo o vaivém
dos barcos. Dizem-me os seus passos
que vale a pena esperar, porque as ondas acabam
sempre por quebrar-se junto das margens. Mas eu sei
que o meu mar está cercado de litorais, que é tarde
para quase tudo. Por isso, vou para casa
e aguardo os sonhos, pontuais como a noite.
Maria do Rosário Pedreira, O Canto do Vento nos Ciprestes
Não deixes nem por um dia de sonhar... mas 'a vida cura-se com a vida', isto de quem sonha até ao infinito, se é que tal é possível...
ResponderEliminarBjos Mtos
rubia
rubia, é só um poema... sem preocupações. :)
ResponderEliminarBeijos e um xi para ti.