domingo, março 21, 2010

Também por ser o Dia da Poesia...

(Trás-os-Montes)

Chove. Há silêncio, porque a mesma chuva
Não faz ruído senão com sossego.
Chove. O céu dorme. Quando a alma é viúva
Do que não sabe, o sentimento é cego.
Chove. Meu ser (quem sou) renego...

Tão calma é a chuva que se solta no ar
(Nem parece de nuvens) que parece
Que não é chuva, mas um sussurrar
Que de si mesmo, ao sussurrar, se esquece.
Chove. Nada apetece...

Não paira vento, não há céu que eu sinta.
Chove longínqua e indistintamente,
Como uma coisa certa que nos minta,
Como um grande desejo que nos mente.
Chove. Nada em mim sente...

Fernando Pessoa, Cancioneiro

3 comentários:

  1. Bom domingo!
    Disfruta do cheiro a Primavera que hoje já se faz sentir.

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  2. Fernando Pessoa no Dia da Poesia... Nada mais natural.

    Bem escolhido, o poema.


    L.B.

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  3. wandolas, obrigada!

    Um bom resto de semana para ti, ainda que a chuva tenha voltado!

    Bjs

    Lídia, Fernando Pessoa é tão variado que encontramos sempre nele algo que se coadune com o dia ou connosco.

    Bom resto de semana. :)

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