sexta-feira, março 05, 2010

A leste do paraíso

Hoje tem um nome – bullying. Noutros tempos não tinha, mas manifestava-se como hoje. Na verdade, considero que é um fenómeno inerente ao homem-animal, que responde ao seu desejo, consciente ou inconsciente, de ter domínio sobre os outros, de se sentir maior, pela humilhação. Não sou psicóloga para poder “chamar os bois pelos nomes”, mas observo que cobardia e baixa auto-estima subjazem a gestos de agressão gratuita dirigidos aos pares que se julga ou que são mais frágeis.
Berros, insultos, palavrões e empurrões, quando não extorsão sob ameaça, não são exclusivos das escolas ditas “problemáticas”, nem dos alunos de meios desfavorecidos. Basta transpor o portão de uma qualquer escola de província onde aparentemente “não se passa nada” para percebermos que é assim que grande parte dos jovens comunica. O insulto e o confronto físico são as manifestações mais óbvias de bullying, mas há outras que, não sendo, visíveis, podem ser tanto ou mais danosas , como, por exemplo, a troça de que são alvo os que não entram na norma dos grupos dominantes – os gordinhos, os que não se vestem à moda, os que vivem na aldeia, ...
Talvez as escolas estejam muito preocupadas com questões que não passam por discutir e minimizar a indisciplina, talvez os pais estejam pouco atentos, talvez o Ministério tenha preferido, até há poucos dias, não ver o que é óbvio e não tenha sabido estabelecer prioridades... talvez... talvez... talvez... O que é lamentável é que, neste assunto, como em muitos outros, quem de direito só se lembre de pôr tranca na porta depois da casa roubada.

4 comentários:

  1. O problema é de facto muito antigo.
    Quem andou a estudar, pode confirmar que há mais de 35 anos (no tempo da ditadura) já era assim.
    No meu tempo, quem se queixasse dos colegas aos professores, era considerado "maricas" (até por alguns professores).
    Actualmente, os professores, pais e demais partes interessadas são muito diferentes. Mas, na prática, continua tudo na mesma.
    Principalmente porque a nossa cultura não mudou quase nada...
    Excelente post, muito actual.
    Querida amiga, bom fim de semana.
    Um beijo.

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  2. Nilson, tenho a impressão que está tudo pior. Os papéis não estão definidos, a autoridade dos adultos - pais, professores ou auxiliares - não é reconhecida pelos jovens. Há uns anos - não tantos assim - se repreendêssemos um miúdo, por norma acatava e ficava sem saber onde se meter; hoje, ficam a rir na nossa cara, quando não fazem pior, para provocar.

    Bom fim-de-semana também para ti. Beijinhos

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  3. E pode repetir-se em qualquer lado - escola ou não.

    Num local de trabalho, num transporte habitual, numa qualquer povoação...

    E não acredito em remédios milagrosos.


    Pena tenho do Leandro e dos que o amavam. Mas, repito, é circunstancial - não é exclusivo da escola (embora o facto de ser um local onde se tenta educar levante outras questões, claro!)


    Tristemente actual. Bjo

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  4. tsiwari, pode, de facto, repetir-se em qualquer lado, inclusive entre adultos.

    Também não acredito em remédios milagrosos, por muito que as escolas e as famílias se esforcem.

    De qualquer forma, talvez esteja nas mãos de todos evitar algumas situações.

    Bom domingo. Bjs

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