terça-feira, abril 28, 2009

piercings e bordados

Há dias, numa viagem de camioneta, fui obrigada a ouvir uma conversa entre uma rapariga dos seus 20 anos e um rapaz, militar, talvez da mesma idade. Ainda colei os auscultadores nos ouvidos, mas o volume das vozes sobrepôs-se ao da minha música e não tive, portanto, outro remédio.
A certa altura, ela queixava-se, indignada, que as raparigas que não tinham saído da terra para estudar a criticavam por usar piercings. De imediato, condenava essas raparigas por se dedicarem aos bordados, acrescentando com orgulho que nunca tinha querido saber de tais tarefas, embora a mãe se tenha esforçado por lhas ensinar.
Eu nunca pus um piercing, nunca fiz uma tatuagem. Não é uma questão de gosto. É uma questão de feitio... e de estilo. Se os anéis me fazem impressão, imagino o que não seria ter um piercing na língua ou em qualquer outra parte corpo – exposta ou íntima. Acho até uma certa graça a alguns. Quanto às tatuagens, aprecio-as, nos corpos alheios, discretas, simbólicas, de um simbolismo duradouro - não me refiro, obviamente, aos corações trespassados por setas, encimados ou seguidos pelo nome da namorada do momento.
Ora, como já referi, nunca pus um piercing, nem fiz uma tatuagem, mas aprendi uns rudimentos de algumas manualidades e nunca senti que isso me tenha tornado mais tacanha do que as pessoas que se orgulham de não perderem tempo com essas coisas. Isto também para dizer que, quando ouvi a mocinha atacar de pirosas as meninas dos bordados, me ocorreu que o preconceito dela não era menor do que os dessas raparigas às quais se referia tão sarcasticamente e que o facto de ter ido estudar para a grande cidade ou de ter posto um piercing não tinham sido garantia de espírito aberto, embora ela ingenuamente acreditasse que sim.

5 comentários:

  1. Sem dúvida, dos dois lados o mesmo preconceito.
    Até breve
    ~CC~

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  2. Não tenho piercings,nem tatuagens nem sei bordar e (quase) sempre vivi na cidade grande... (nunca tinha pensado/dito isto assim)... mas sem dúvida que o preconceito está (continua) presente aí

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  3. Infelizmente confunde-se quase sempre ruralidade/artesanal com tacanhez!
    bjito

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  4. um dia senti, também, que usar alguns símbolos me fazia cool, me fazia diferente daquilo que eu considerava a norma. Hoje, ás vezes, ainda sinto assim, apesar de racionalmente achar que não. Todos nós temos este tipo de preconceito. Senão é o crochet é o arraiolos!
    Bjs

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  5. Nem mais... o preconceito é universal.

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