Durante anos, a vila foi o nosso ponto de encontro obrigatório nas férias, sobretudo nas de Verão. Em bando, “assaltávamos” os bancos de jardim, as cadeiras da esplanada, as despensas das mães. Conversávamos de tudo e de nada, ríamos – das palermices, dos pequenos infortúnios ou das interpretações ingénuas de cada um. Éramos parcos em confidências , mas generosos na partilha das horas. (Os afectos nem sempre se alimentam de confidências.)
Durante anos, foram as caminhadas e os piqueniques na serra; durante anos, foram os périplos pelos castelos e as tardes em Miranda ou em Zamora.
Nesses anos, embora não o verbalizássemos, sentiamo-nos intocáveis, imunes às perdas, à distância e às desgraças. Talvez seja por isso que hoje, volvidos anos, tornados escassos os encontros e a cumplicidade por força de condicionantes geográficas e de obrigações familiares e profissionais, uma nuvem negra que paire sobre um de nós faz sombra no coração e no olhar dos restantes.
domingo, janeiro 04, 2009
os amigos
Esses estranhos que nós amamos
e nos amam
olhamos para eles e são sempre
adolescentes, assustados e sós
sem nenhum sentido prático
sem grande noção da ameaça ou da renúncia
que sobre a luz incide
descuidados e intensos no seu exagero
de temporalidade pura
Um dia acordamos tristes da sua tristeza
pois o fortuito significado dos campos
explica por outras palavras
aquilo que tornava os olhos incomparáveis
Mas a impressão maior é a da alegria
de uma maneira que nem se consegue
e por isso ténue, misteriosa:
talvez seja assim todo o amor
José Tolentino de Mendonça, "Os Amigos", De Igual Para Igual
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E tantos anos passaram...
ResponderEliminarBoa semana wandolas.
Comovidamente ,leio o poema de Tolentino de Mendonça, o poeta de » a que distância deixaste o coração », e continuo a ler uma excelente reflexão sobre tempos juvenis , com um sabor a nostalgia prazenteira !
ResponderEliminarAbraço____________----
_________ JRMARTO
Para pena minha não tenho esta sensação. Por constrangimentos diversos não pude saborear essas tardes e ver os meus amigos de infância crescerem.
ResponderEliminarApesar disto senti um nó saboroso quando li o teu texto.
Bjs
As confidências ficavam-se por gestos, por vezes mais significativos q palavras. E não imaginávamos que eram pessoas a quem podia acontecer algo menos bom, porque eram e são os 'nossos' amigos...
ResponderEliminarBjis para ti e para os teus
rubia