segunda-feira, janeiro 19, 2009
as palavras interditas
Os navios existem e existe o teu rosto
encostado ao rosto dos navios.
Sem nenhum destino flutuam nas cidades,
partem no vento, regressam nos rios.
Na areia branca, onde o tempo começa,
uma criança passa de costas para o mar.
Anoitece. Não há dúvida, anoitece.
É preciso partir, é preciso ficar.
Os hospitais cobrem-se de cinza.
Ondas de sombra quebram nas esquinas.
Amo-te... E abrem-se janelas
mostrando a brancura das cortinas.
As palavras que te envio são interditas
até, meu amor, pelo halo das searas;
se alguma regressasse, nem já reconhecia
o teu nome nas minhas curvas claras.
Dói-me esta água, este ar que se respira,
dói-me esta solidão de pedra escura,
e estas mãos nocturnas onde aperto
os meus dias quebrados na cintura.
E a noite cresce apaixonadamente.
Nas suas margens vivas, desenhadas,
cada homem tem apenas para dar
um horizonte de cidades bombardeadas.
Eugénio de Andrade
Completaria hoje mais um aniversário...
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarMais um grande representante das letras portuguesas cujo aniversário de nascimento se relembra!
ResponderEliminarHá dias li um dos seus poemas que me chamou a atenção. Falava de Janeiro, da terra fria, referia-se a Miguel Torga! Vou à procura desse poema, que o tenho numa Antologia que comprei há já uns bons anos...
Ontem foi o Ary dos Santos, hoje o Eugénio de Andrade! Por datas diametralmente opostas, qual delas a mais significativa!?
Valha-nos as obras eternas que nos legaram!
Bj
António
Eugénio de Andrade é, para mim, um dos maiores da literatura. Amo a poesia, porque nos faz ir além de nós mesmos. Considero que na palavras que nos oferecem, pintam um quadro subjectivo que nos permite encontrar a obejectividade possível dos seus mundos e dos nossos.
ResponderEliminarBj
qualquer palavra sobra
ResponderEliminar, um grande poeta ,....
Abraço__________ JRMARTO