terça-feira, novembro 11, 2008

quentes e boas...

Porque é dia de S. Martinho e porque o tempo não me sobra para escrever novo texto, fui ao baú resgatar o que se segue (que deve ter uns cinco anos), ao qual fiz alguns cortes.
As castanhas são deste ano... acabei de as fotografar! 

Proveniente do étimo latino "castanea", a palavra castanha designa um fruto de alto valor nutritivo. Ao que parece, era já cultivada pelos Romanos e, segundo Aquilino Ribeiro, na sua obra Avós dos Nossos Avós, cozinhada de diferentes maneiras pelos Lusitanos. Até ser sido substituída, no século XVIII, pela batata, a castanha serviu, durante muito tempo, de alimento base. Além do papel que desempenham na culinária – cristalizadas, fritas, em sopas, em bolos, a acompanhar carne assada, ou simplesmente assadas ou cozidas -, servem igualmente de motivo de convívio. Compradas, de colheita, ou oferecidas, ninguém dispensa, em Dia de Todos os Santos, ou em Dia de S. Martinho, castanhas, acompanhadas de preferência de jeropiga – bebida alcoólica preparada a partir do vinho mosto e aguardente. À volta da fogueira ou do assador – de latão ou de barro -, descascam-se os “bilhós”, tingem-se os dedos e, numa atitude divertida e traiçoeira, tisnam-se os rostos, sem que ninguém leve a mal. Pelo meio, desfiam-se histórias antigas, que, pelo caricato e de tão repetidas, já assumiram o estatuto de anedotas caseiras. De magustos, todos mais ou menos percebemos, mas da apanha das castanhas, esse trabalho de bastidores, só a alguns cabe. De manhã, desde que o dia tenha clareado, e desde que não chova “a cântaros”, homens e mulheres partem rumo aos soutos – é preciso, todos os dias “dar uma voltinha” aos castanheiros, sobretudo se, de noite, o vento e a chuva vieram de feição, derrubando e amolecendo os ouriços. Pelo caminho, a conversa denuncia a preocupação ou a alegria de um ano de boa ou má colheita – “ Este ano ainda são bem boas!”; “ Parece que este ano não vale a pena o esforço.”. Os corpos vergados anseiam a vinda de um comprador que não dê por perdido o tempo, as molhas e alguns picos espetados nos dedos ou na cabeça. Também relativamente à venda, o ritual se repete: um intermediário, geralmente da aldeia, meio sigilosamente, passa a palavra, para que nenhum amigo fique de fora e possa vender ao melhor preço os sacos de castanhas que, armazenados, esperam a altura mais oportuna. Em tempos, quando a seca e as doenças não atingiam, como hoje, os castanheiros e quando a agricultura era realmente o principal modo de subsistência das nossas aldeias, a apanha da castanha dava trabalho a mulheres das aldeias vizinhas que, durante quinze dias ou um mês, se passavam, “ de armas e bagagem” para as casas mais abastadas. Acerca das castanhas, diz a sabedoria popular que fazem criar piolhos, se comidas cruas em quantidade exagerada, ou que morde o burro, se não forem comidas no dia um de Maio. Aproveitando que o S. Martinho está aí, previnam desde já as mordedelas do burro: comam castanhas, tisnem as caras.. e provem, sem exageros, o vinho novo.

3 comentários:

  1. Oi!
    Pois, por incrível que pareça não gosto de castanhas e por isso não ligo ao São Martinho.
    Bjs

    ResponderEliminar
  2. Este ano não foi nada amiguinho mandou chuva em vez do tão afamado verão.
    Continuação de bons magustos wandolas.

    ResponderEliminar
  3. Que bonitas castanhas....
    Habitualmente não festejo O dito Martinho , dou-me mal com este santo , mas este ano comprei castanhas na rua , e não é que eram boas , nem uma vinha bichosa...
    Cordialmente
    ___________ JRMarto

    ResponderEliminar