"Há sensações que são sonos, que ocupam como uma névoa toda a extensão do espírito, que não deixam pensar, que não deixam agir, que não deixam claramente ser. Como se não tivéssemos dormido, sobrevive em nós qualquer coisa de sonho, e há um torpor do sol do dia a aquecer a superfície estagnada dos sentidos. É uma bebedeira de não ser nada, e a vontade é um balde despejado para o quintal por um movimento indolente do pé à passagem.
Não é tédio o que se sente. Não é mágoa o que se sente. É uma vontade de dormir com outra personalidade, de esquecer com melhoria de vencimento. Não se sente nada a não ser um automatismo cá em baixo, a fazer umas pernas que nos pertencem levar a bater no chão, na marcha involuntária, uns pés que se sentem dentro dos sapatos."
F. Pessoa-Bernardo Soares, O Livro do Desassossego
No cumprimento mecânico que s faz aos conhecidos, no preencher do dia rotineiro, no vazio do sentir...
ResponderEliminarE novamente Pessoa...
bjis
rubia
Pessoa , estranhíssimo digo eu , já a compreender os nossos dias ...
ResponderEliminarcordialmente
José Ribeiro Marto