houve pelo menos um Verão em que esta música se ouvia repetidamente nas rádios generalistas.
Nesse tempo, era tudo ainda a feijões. Não tínhamos preocupações, embora, por vezes, nos lamentássemos da sorte e nos sentíssemos as pessoas mais infelizes do mundo.
Podíamos passar horas e horas a semear palavras como quem come cerejas, noite dentro, sem que o corpo se ressentisse, sem que a PDI viesse importunar-nos como hoje. A verdade é que, nas férias - que eram loooongaaas -, compensávamos o deitar tarde levantando-nos ao meio-dia, na melhor das hipóteses.
Esta música lembra-me um Verão em Lisboa e as ininterruptas conversas, até de madrugada, com uma das minhas primas do coração. Não sei onde íamos vasculhar tanto para dizer, mas o que é certo é que não conseguíamos estar juntas sem conversar sobre os mais variados temas. Sobretudo, interpretávamos atitudes, dissecávamos sentimentos, trocávamos leituras. A distância física e temporal abrandava as palavras, mas não as calava, porque, depois de Agosto ou Setembro, e durante um ano, convocávamos a cumplicidade da escrita, em cartas, quase semanais, de 7 ou 8 páginas.
Com o tempo, trocámos as cartas por emails e telefonemas. Já não passamos férias juntas, o ano que ficávamos sem nos ver tornou-se plural, contudo a amizade ganhou outras tonalidades, mais definidas e permanentes.
Eu gosto desta música - talvez pelas recordações que me traz -, ela não... mas esta e outras divergências provam que não é preciso ouvir a mesma canção - ao contrário do que diz o Rui Veloso - para se gostar de alguém.
Também tenho primas assim. E sinto isso que sentes. O Rui Veloso estava enganado.
ResponderEliminarBelos tempos esses!
ResponderEliminardias em que sentias que a vida tinha calor não era? também por vezes sinto saudades. parece que a vida fica mais fria à medida que crescemos. mas já que não podemos ter o passado ao menos podemos sempre lembrarmo-nos dele com saudade :)
ResponderEliminarAlecrim, é tão bom perceber que, por muito que o tempo passe e que envelheçamos, a cumplicidade só se apura, não é?
ResponderEliminarjvt, eram, de facto, belos tempos esses de então! Felizmente, no presente a vida também traz alegrias, não é?
s., nesse tempo sentíamos que a vida nos dava outro calor, talvez porque não tívessemos que tomar decisões e sofrer as consequências delas, outros, mais velhos, faziam-no por nós...
Ter saudades é óptimo, mas aproveitar cada momento bom do presente também. Carpe diem!
Faz parte da compilação dos BEST OF ALL TIMES.
ResponderEliminarAfrica - Toto!