O luar desmaiava mais ainda uma máscara caída nas esteiras bordadas. E os bambus ao vento e os crisântemos nos jardins e as garças no tanque, gemiam com ele a adivinharem-lhe o fim. Em roda tombavam-se adormecidos os ídolos coloridos e os dragões alados. E a gueixa, porcelana transparente como a casca de um ovo da Íbis, enrodilhou-se num labirinto que nem os dragões dos deuses em dias de lágrimas. E os seus olhos rasgados, pérolas de Nanguim a desmaiar-se em água, confundiam-se cintilantes no luzidio das porcelanas.
Ele, num gesto último, fechou-lhe os lábios co'as pontas dos dedos, e disse a finar-se: — Chorar não é remédio; só te peço que não me atraiçoes enquanto o meu corpo for quente. Deixou a cabeça nas esteiras e ficou. E Ela, num grito de garça, ergueu alto os braços a pedir o Céu para Ele, e a saltitar foi pelos jardins a sacudir as mãos, que todos os que passavam olharam para Ela.
Pela manhã vinham os vizinhos em bicos dos pés espreitar por entre os bambus, e todos viram acocorada a gueixa abanando o morto com um leque de marfim.
A estampa do pires é igual.
Nota: Este texto faz parte de Frisos, um conjunto de textos do autor dados a conhecer ao público, se não me engano, no primeiro número da revista Orpheu, em que colaboraram, entre outros, Mário de Sá-Carneiro e Fernando Pessoa.
as coisas de ke te lembtas a tomar chã :p beijo
ResponderEliminarConfesso que desconhecia o trabalho de Almada até há um ano, mas por motivos profissionais, descobri-o e apaixonei-me pelos seus poemas... Este texto desconheci-a... mas achei-o lindíssimo...
ResponderEliminarlindooooooooooooo muito bem escolhido! bjkas e bom começo de semana.
ResponderEliminarEn qué lugar vives exactamente? Me dijiste que cerca de Braganza. Un beso.
ResponderEliminarAs saudades que tinha deste texto e não sabia onde o encontrar, em que livro...
ResponderEliminarBjoca
"Vai um chá?"
ResponderEliminar- Desses, sempre!
Vai servindo, por favor!
;-)
chá de menta.. minham.. com bolinhos ou bolachas...
ResponderEliminar:D