quarta-feira, fevereiro 08, 2017
Murmúrios do mar
"Paga-me um café e conto-te
a minha vida"
o inverno avançava
nessa tarde em que te ouvi
assaltado por dores
o céu quebrava-se aos disparos
e uma criança muito assustada
que corria
o vento batia-lhe no rosto com violência
a infância inteira
disso me lembro
outra noite cortaste o sono da casa
com frio e medo
apagavas cigarros nas palmas das mãos
e os que te viam choravam
mas tu, não, nunca choraste
por amores que se perdem
os naufrágios são belos
sentimo-nos tão vivos entre as ilhas, acreditas?
E temos saudades desse mar
Que derruba primeiro no nosso corpo
Tudo o que seremos depois
"pago-te um café se me contares
o teu amor"
José Tolentino Mendonça, Baldios
O primeiro poema que hoje me "acorreu" ao olhar... Como gosto muito, entendi que não podia ficar só para mim.
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Também gosto muito do Tolentino que, das vezes em que vi, me pareceu em pessoa igual aos seus poemas, suave...
ResponderEliminar~CC~
(foi o presidente do júri de doutoramento da minha irmã).
Gosto sempre de o ouvir, em entrevistas, e de o ler, nas diferentes formas em que escreve, ainda que prefira a vertente poética, CC.:)
ResponderEliminarE ainda bem que a decisão foi trazê-lo para aqui. :)
ResponderEliminarmaravilhoso... :)
ResponderEliminaragradeço a visita e comentário
ResponderEliminaré bom saber que está de volta
beijo
fica (mais uma vez) nos meus blogs de estimação.
luisa, é sempre bom partilhar o que é belo.
ResponderEliminarLaura, pois é!
Manuel, não tem por que agradecer. A visita levou-me, depois, a uma das minhas estantes, onde guardo o seu livro "Poemas Cativos". Beijo