domingo, dezembro 03, 2017

Memórias do frio

Em repetição por aqui, porque Dezembro não é apenas o Natal e todo o consumismo inerente. Dezembro é, mais do que isso, as memórias do frio, dos gestos pequenos que enchiam o coração e das pessoas cuja presença serena nos abraçava.



Tu ignoras esse Natal
que persiste na minha memória
e me aconchega.

Falo desse Natal que é ainda o meu avô
a abriràs manhãs frias, a porta
que dava para o cortinheiro*.

Ou um santo António
a assomar numa nota de vinte escudos,
a cor e o aroma das tangerinas
e das laranjas, que se ofertavam ao menino.

O Natal em que a roupa dormia, gelada, 
no estendal da varanda,
a chama e o calor da fogueira que procurávamos
depois da missa do galo, quando as luzes da aldeia
se apagavam.

Os almanaques do tio, o arroz doce da tia,
que repousava na sala que só se abria
para as visitas em dias de festa.

Foi num desses natais
que recebi o meu primeiro relógio.

A partir de então,
aprendi a voracidade das horas, 
o efeito corruptor do tempo.

deep, Dezembro de 2013

*quintal

8 comentários:

  1. Bonito Deep, tanto a imagem como o poema.
    ~CC~

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  2. Obrigada, CC. :) Bom domingo. Abraço.

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  3. "...a voracidade do tempo...", só nos deixa esta indelével certeza:
    aromas emocionais dum tempo onde éramos habitados pelos afetos da família.

    Belo poema
    Abraço

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  4. As memórias dos natais da infância quando a inocência nos inundava o olhar de ternura pelas pessoas e pelas coisas.
    Lindíssimo!
    Uma boa semana.
    Um beijo.

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  5. Obrigada, Luís. :)

    Obrigada, Graça. :) Um beijo.

    Boa semana para ambos.

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  6. Muito bonito. Gostei.
    Beijinhos e uma boa semana:)

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  7. Obrigada, Isabel. Gosto de te rever por cá. :)
    Bom fim de semana. Beijinhos

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  8. do frio não são só memórias :)

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