Mero devaneio nascido de impressões, não de certezas...
Nas lentas tardes da infância,
as mulheres desfiam histórias
de sofrimento antigo.
Num gesto mecânico,
as mãos, engelhadas e côncavas,
como garras de rapina,
abandonam o regaço,
para ajeitar a travessa do cabelo.
Sentadas nas toscas escaleiras de xisto,
trocam confidências e mezinhas,
receitas e rezas, as mulheres.
Com desvelo,
vêem crescer os filhos e as trepadeiras,
rente às paredes,
ao abrigo da canícula.
Pacientes, aguardam que o pão levede
nas masseiras e que a roupa aclare ao sol.
Com a mesma paciência,
perdoam aos homens,
eternos meninos inconsequentes,
as traições, as demoras
e os filhos em ventres alheios.
No interior das casas, a luz que entra
pelas telhas de vidro
ilumina os objectos quotidianos
que repousam sobre o oleado da mesa
e sobre o velho escano.
Nas lentas tarde da infância,
os homens marcam encontro na taberna
onde entornam copos de vinho
e jogam ao chincalhão e à batota,
esquecidos das mulheres
que os esperam,
com a mesa posta,
depois das ave-marias.
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