terça-feira, março 14, 2017

A cidade esquecida


Ela disse: Sou uma cidade esquecida.
Ele disse: Sou um rio.

Ficaram em silêncio à janela
cada um à sua janela
olhando a sua cidade, o seu rio.

Ela disse: Não sou exactamente uma cidade.
Uma cidade é diferente de uma cidade
esquecida.

Ele disse: Sou um rio exacto.

Agora na varanda
cada um na sua varanda
pedindo: Um pouco de ar entre nós.

Ela disse: Escrevo palavras nos muros que pensam em ti.
Ele disse: Eu corro.

De telefone preso entre o rosto e o ombro
para que ao menos se libertassem as mãos
cada um com as suas mãos libertas.
Ela temeu o adeus, disse: Sou uma cidade esquecida.
Ele riu.

Filipa Leal

4 comentários:

  1. Somos...e os sentimentos que nos tolhem os movimentos!
    bj

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  2. O rio passa e se calhar acaba por se esquecer da cidade.

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  3. muito bem
    adoro estes trocadilhos poéticos

    beijo

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  4. Armando, os sentimentos tolhem-nos os movimentos algumas vezes, outros fazem-nos ir em frente. :)
    Bj

    luisa, há rios que se esquecem e outros, espero, sentem-se orgulhosos das cidades. :)

    Manuel, também gosto, dos trocadilhos e das metáforas. :)
    Beijo

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