quinta-feira, abril 14, 2016

Sol de Março em Abril



Por vezes, sentes que ouvir certas músicas, passar em certos lugares, leres certos textos são puros exercícios de masoquismo. Ouves, passas, lês... sofres. Apesar disso, continuas a ouvir, a passar, a ler...

Ocorre-me, de súbito, um poema da Portia Nelson que mostra como somos tentados a cair repetidamente no mesmo erro. Não sei se é incompetência, masoquismo ou bondade.


O poema:  "Autobiografia em cinco pequenos capítulos"

I
Ando numa rua.
Há um grande buraco no passeio.
Caio no buraco.
Sinto-me perdido...
impotente.
A culpa não é minha.
Uma eternidade até que consiga sair do buraco.

II
Caminho na mesma rua.
Há um grande buraco no passeio.
Faço de conta que não o vejo.
Volto a cair no buraco.
Nem quero acreditar que foi no mesmo sítio.
Mas a culpa não é minha.
Vai ser preciso ainda muito tempo para sair do buraco.

III
Ando na mesma rua.
Há um grande buraco no passeio.
Vejo-o muito bem.
Mesmo assim, caio...
Tornou-se um hábito!
Sei onde estou.
A culpa é minha.
Saio do buraco imediatamente.

IV
Ando na mesma rua.
Há um grande buraco.
Contorno-o.

V
Sigo por outra rua.

2 comentários:

  1. deep, eu diria que é aprendizagem. Tudo leva o seu tempo e o tempo preciso não é igual para todos.
    Beijo

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  2. Ou, como escreveu o Pessoa, «Cada coisa a seu tempo tem seu tempo. /Não florescem no inverno os arvoredos, /Nem pela primavera
    Têm branco frio os campos.». Talvez seja isso, Isabel. :)

    Beijo

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