quarta-feira, agosto 12, 2015

Havia um bule azul e havia um cão


Galya Popova

Recordo que havia, no lado oposto da mesa, um bule azul, que tudo indicava ser de esmalte e, mais perto de mim, uma caneca, certamente vazia, dentro da qual repousava uma colher. Desconheço que líquido terá adoçado. Assomava, junto ao bule, a cabeça de um cão, de um azul mais escuro e, a alguns centímetros, a cauda. Não estou certa de que o cão fosse azul. Talvez de um tom mais próximo do lilás. Estranho? Ali tudo parecia possível. Por exemplo, nada fazia crer que naquele lugar crescessem limões, contudo, havia, tanto quanto me lembro, alguns espalhados sobre a mesa.
Eu,sentada junto à mesa, observava, através do vidro do que suponho ser uma porta, a paisagem em frente: um campo verde e três árvores, das quais só avistava os troncos e parte das copas. E esperava. Tudo ali, até os objetos e os frutos, parecia assumir uma atitude de espera. Talvez o cão, que me olhava com desconfiança, esperasse uma reacção minha. Pareceu-me, no entanto, demasiado pacífico - ou preguiçoso - para atacar.

(Devaneio criado a partir da observação da imagem.)

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